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É a reação natural a dificuldades coletivas na mente de
qualquer pessoa que não
reconheça que as soluções consensuais de problemas coletivos não são, em regra,
impostas mas descobertas, e que são descobertas ao longo do tempo.
Esse
conhecimento está disperso pela sociedade e não é propriedade de nenhum
indivíduo.
Parece, na verdade, como uma atividade de transferência, um
modo de os políticos se ocuparem com soluções ilusórias enquanto esperam que os
problemas desapareçam.
A ordem
social e econômica emerge da nossa negociação tácita como subproduto e não como
objetivo.
A falácia do planejamento leva a outra: a desagregação dos
problemas.(...)
Em todas as suas formas, o planejamento tem uma perigosa
tendência para ignorar o modo como, pela lei das consequências não planejadas,
a solução de um problema pode ser o início de outro.(...)
Não há prática mais arriscada que desagregar riscos, de modo
a proibi-los um a um.
Na raiz da falácia do planejamento reside o problema
identificado há dois milênios por Terêncio: Quis custodiet illos custodes?
(Quem vigia os vigilantes?)
O ponto
de vista razoável é o que visa uma ordem social baseada em restrições e não em
objetivos.(...)
Kant reformulou a ideia em termos do seu 'imperativo
categórico', que não nos diz o que devíamos visar mas apenas o que evitar.
Devemos agir com base na 'máxima que podemos desejar como lei universal'. (o
equivalente kantiano à Regra de Ouro judaica e cristã) (...)
A
coexistência pacífica numa sociedade de estranhos consegue-se não por meio de
um propósito comum ou de um plano organizado, mas por meio de restrições
colaterais, as quais protegem cada pessoa dos propósitos e planos de todas as
outras.
Tal como os preços no mercado condensam em si mesmos
informação que doutro modo fica dispersa na sociedade contemporânea, também as leis condensam informação que está dispersa
pelo passado de uma sociedade.
Os que acreditam que a ordem social exige restrições ao
mercado têm razão. Todavia, numa ordem verdadeiramente espontânea as restrições
já existem, sob a forma de costumes, leis e princípios morais. Se essas coisas
boas se desintegram, não há maneira, segundo Hayek, de a legislação as
substituir. Porque ou surgem de forma espontânea ou não surgem, pura e
simplesmente, e a imposição de instrumentos legislativos para a 'boa sociedade'
destrói o que resta do saber acumulado que torna possível essa sociedade. (...)
Tinham fé nos limites espontâneos colocados ao mercado pelo
consenso moral da comunidade. Talvez esse consenso
esteja atualmente a ceder. Mas essa cessão é em parte resultado da
interferência do Estado e é certamente improvável que seja curada por ele.
Foi
precisamente o êxito da falácia do planejamento na criação de enormes máquinas
de poder e influência, a galopar descontroladas para o futuro, que levou à
erosão do consenso.
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