sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Falácia do Planejamento

Trechos escolhidos do capítulo 'Falácia do Planejamento' em 'As vantagens do pessimismo' de Roger Scruton.
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É a reação natural a dificuldades coletivas na mente de qualquer pessoa que não reconheça que as soluções consensuais de problemas coletivos não são, em regra, impostas mas descobertas, e que são descobertas ao longo do tempo.

Esse conhecimento está disperso pela sociedade e não é propriedade de nenhum indivíduo.

Parece, na verdade, como uma atividade de transferência, um modo de os políticos se ocuparem com soluções ilusórias enquanto esperam que os problemas desapareçam.

A ordem social e econômica emerge da nossa negociação tácita como subproduto e não como objetivo.

A falácia do planejamento leva a outra: a desagregação dos problemas.(...)
Em todas as suas formas, o planejamento tem uma perigosa tendência para ignorar o modo como, pela lei das consequências não planejadas, a solução de um problema pode ser o início de outro.(...)
Não há prática mais arriscada que desagregar riscos, de modo a proibi-los um a um.

Na raiz da falácia do planejamento reside o problema identificado há dois milênios por Terêncio: Quis custodiet illos custodes? (Quem vigia os vigilantes?)

O ponto de vista razoável é o que visa uma ordem social baseada em restrições e não em objetivos.(...)
Kant reformulou a ideia em termos do seu 'imperativo categórico', que não nos diz o que devíamos visar mas apenas o que evitar. Devemos agir com base na 'máxima que podemos desejar como lei universal'. (o equivalente kantiano à Regra de Ouro judaica e cristã) (...)
A coexistência pacífica numa sociedade de estranhos consegue-se não por meio de um propósito comum ou de um plano organizado, mas por meio de restrições colaterais, as quais protegem cada pessoa dos propósitos e planos de todas as outras.

Tal como os preços no mercado condensam em si mesmos informação que doutro modo fica dispersa na sociedade contemporânea, também as leis condensam informação que está dispersa pelo passado de uma sociedade.

Os que acreditam que a ordem social exige restrições ao mercado têm razão. Todavia, numa ordem verdadeiramente espontânea as restrições já existem, sob a forma de costumes, leis e princípios morais. Se essas coisas boas se desintegram, não há maneira, segundo Hayek, de a legislação as substituir. Porque ou surgem de forma espontânea ou não surgem, pura e simplesmente, e a imposição de instrumentos legislativos para a 'boa sociedade' destrói o que resta do saber acumulado que torna possível essa sociedade. (...)
Tinham fé nos limites espontâneos colocados ao mercado pelo consenso moral da comunidade. Talvez esse consenso esteja atualmente a ceder. Mas essa cessão é em parte resultado da interferência do Estado e é certamente improvável que seja curada por ele.


Foi precisamente o êxito da falácia do planejamento na criação de enormes máquinas de poder e influência, a galopar descontroladas para o futuro, que levou à erosão do consenso.

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