Trechos selecionados desse texto de Erik von Kuehnelt-Leddihn.
Eu não hesito em anunciar que sou um reacionário. Eu tomo com um profundo orgulho, na verdade. Não vejo mais razão em olhar para a frente, para um futuro desconhecido, ao invés de olhar para trás nostalgicamente para valores conhecidos e comprovados.
O termo "reacionário", na forma em que uso, não representa um conjunto de ideias definitivos e imutáveis. Representa uma atitude de espírito. (...)
As circunstâncias em que o termo "reacionário" é aplicado como um epíteto para fascistas e outras marcas do homem moderno - as quais um verdadeiro reacionário tem apenas desprezo - não é minha culpa.
Como um reacionário honesto, eu naturalmente rejeito o Nazismo, Comunismo, Fascismo e todas as ideologias relacionadas que são, de fato, um reductio ad absurdum da chamada democracia e do “povo no poder”. Eu rejeito os pressupostos absurdos do governo da maioria (...) e o falso conservadorismo dos grandes banqueiros e industrialistas. Eu abomino o centralismo e a uniformidade da vida em rebanho, o espírito estúpido racista, o capitalismo privado, bem como o capitalismo de estado (socialismo) que contribuíram para a ruína gradual da nossa civilização nos últimos dois séculos. O verdadeiro reacionário desses dias é um rebelde contra os pressupostos prevalecentes e um "radical" que vai até as raízes.
(...) O desastre final foi, na Revolução Francesa, diante do eterno dilema de escolher entre liberdade e igualdade, decidiu-se pela igualdade. (...) [Eles que] acreditavam que a torre da catedral deveria ser demolida porque essa estava acima do nível igualitário de todas as outras casas são símbolos do modernismo e do "progresso" perverso.
As massas, formando maiorias organizadas e abraçando ideias idênticas e odiando uniformemente todos aqueles que ousam ser diferentes, são o produto atual dessas várias revoltas. (...) O rebanho manda hoje em quase todos os lugares, com diversos meios e sob os mais diversos rótulos. É a essa tirania que eu me oponho.
Como um reacionário, acredito em liberdade, mas não igualdade. (...) Não aceito nem o igualitarismo degradante dos "democratas", nem as divisões artificiais do racistas, nem as distinções de classe dos comunistas e esnobes.
Seres humanos são únicos. Eles devem ter a oportunidade de desenvolver suas personalidades - e isso significa responsabilidade, sofrimento, solidão. (...). E há todos os tipos de coroas, a mais nobre delas, composta por espinhos.
(...) Eu acredito na família, na hierarquia natural dentro da família e no abismo natural entre os sexos. Eu amo os velhos cheios de dignidade e pais orgulhosos, mas também adoro crianças corajosas e justas. Em uma hierarquia o membro mais inferior é funcionalmente tão importante quanto o mais elevado.
(...) O abismo entre os homens e as mulheres me parece uma coisa boa também. Não há triunfo na construção de uma ponte sobre uma mera poça.
Eu gosto de pessoas com propriedades. (...) Eu detesto o capitalismo que concentra a propriedade na mão de poucos, não menos do que o socialismo que quer transferi-lo para o grande ninguém, uma hidra com um milhão de cabeças e sem alma: Sociedade. Gosto de pessoas com sua própria morada, com seus próprios campos, com seus próprios pontos de vista levando-os a ações independentes. Eu tenho medo da massa: os 51% que votaram em Hitler e Hugenberg; a multidão em frenesi que apoiou o Terror Francês; os 55% dos brancos dos Estados do Sul que mantiveram 45% dos negros "em seu lugar" (...).
Eu temo todas as massas que consistem de homens com medo de serem únicos, de serem pessoas; se importando mais com a segurança do que a liberdade, temendo seus vizinhos ou a "comunidade" mais do que Deus e suas consciências. Essas são pessoas que não exigem somente a igualdade, mas também identidade. Eles suspeitam de qualquer um que se atreve a ser diferente. (...) O homem moderno parece ter apenas um desejo: ver tudo moldado na sua própria imagem; ele detesta personalidade e tenta se assimilar. O que ele não consegue assimilar, ele extirpa. Toda a nossa época é marcada por um vasto sistema de nivelamento.
(...) Eu não tenho afinidade pelo "liberalismo" do século XIX, com seu materialismo grosseiro e a crença pagã na "sobrevivência do mais apto", ou seja, do mais inescrupuloso.
(...) O que nós reacionários queremos é liberdade e a diversidade. Nós acreditamos que existe uma força peculiar na diversidade.
(...) Como um reacionário, gosto de patriotas; que ficam entusiasmados com a sua pátria, sua terra natal; e não gosto de nacionalistas, que ficam excitados com sua língua e seu sangue. O reacionário defende a ideia de solo e liberdade, ele luta contra o complexo de sangue e igualdade.
(...) Como um reacionário, eu possuo opiniões definitivas como também opiniões provisórias. "Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, a caridade" é um bom programa reacionário. Se eu considerar algo ser a Verdade, eu desconsidero toda opinião que contraria. (...) Como reacionário, respeito qualquer pessoa que, com coragem e sinceridade, mantém visões errôneas, embora seguindo sua consciência. Eu tenho infinitamente mais respeito a um anarquista fanático catalão, ou por um Judeu Ortodoxo, ou por um Calvinista linha dura do que a um humanitário pseudo-liberal com uma veneração secreta a um estado onipotente. Um verdadeiro reacionário é um homem de fé absoluta e generosidade absoluta. Ele concilia dogma e liberdade.
(...) O que precisamos de ambos os lados do Atlântico é mais uma atitude pessoal. Colossialismo e coletivismo são o inimigo. O agricultor de Hindelang, por exemplo, deve antes de tudo, ter orgulho de ser o chefe de uma família, dono de uma fazenda e depois, de ser um morador de Hindelang. (...) [Mas] a identificação pelo "maior" com o "melhor" nos mostra a degradação expressa na adoração da quantidade, o nosso desprezo pela pessoa, todo o nosso desespero moderno pela singularidade humana.
(...) Eles [nós, os reacionários,] não acreditaram necessariamente em um Passado Glorioso em oposição a um Admirável Mundo Novo, mas viram as calamidades do presente, crescendo dos erros do passado, nas catástrofes do futuro. Estão isolados pela suspeita que os rodeia. São considerados desmancha-prazeres por não entrar na apologia universal do "Progresso". (...)
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