sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Falácia da Agregação

Trechos escolhidos do capítulo 'Falácia da Agregação' em 'As vantagens do pessimismo' de Roger Scruton.
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Aos seus olhos [dos revolucionários franceses], liberdade era bom, igualdade era bom e fraternidade era bom, pelo que a combinação era três vezes bom. É como dizer que lagosta é bom, chocolate é bom, ketchup é bom, pelo que lagosta em chocolate e ketchup é três vezes bom.

Robespierre prometeu fanaticamente o 'despotismo da liberdade', (...) uma contradição. (...)
Viram que o objetivo da igualdade exige a destruição da liberdade.

Objetivos que não podem ser promovidos em conjunto; isto é a falácia da agregação.

Os assaltos à liberdade com que os norte-americanos até aqui se deleitaram a realizar-se, em regra, em nome da liberdade. Por exemplo, quando a liberdade de um empregador de empregar quem ele desejar for eliminada por políticas de 'não discriminação', isso é justificado como 'atribuição de poder' e por isso 'libertação' de minorias anteriormente oprimidas. (...)
Não são como os direitos individuais; (...) São diretos de 'grupo' - direitos de uma pessoa tem em virtude de ser mulher, homossexual, ...

Este novo tipo de direito é inventado para justificar a discriminação em nome da não discriminação. É um modo de eliminar direitos individuais. (...) Vai contra o significado global de liberalismo na sua forma clássica, que visava proteger o indivíduo do grupo. (...)
Todavia, os liberais norte-americanos não tem dúvidas no seu espírito de que são eles, e não seus adversários conservadores, os verdadeiros defensores da liberdade individual no mundo moderno. O desejo de igualdade é, aos seus olhos, nada menos do que o desejo de tornar a liberdade igualmente disponível. (...)
E o único agente capaz desse ato em grande escala de atribuição de poder é o Estado.

O conflito ilustra o modo como liberdade e igualdade estão em guerra, bem como o modo como as pessoas tomam partido na guerra sem admitir a sua existência. (...)
Daí, poder-se ser 'liberal' e dedicar-se à destruição das liberdades que se intrometem no caminho da igualdade.

[Esquerdistas] Interpretam liberdade de uma nova maneira, como sendo concedida pela 'luta' pela igualdade. As liberdades defendidas por conservadores (...) são 'formas de dominação'. (...) A procura da liberdade na sua 'verdadeira forma' envolve a erradicação da dominação. (...)
Daí, ao mesmo tempo que faz campanha a favor da expansão do Estado na esfera pública, o novo tipo de vontade liberal fazer campanha a favor da exclusão do Estado da esfera privada.

Adam Smith via claramente que liberdade e moralidade são duas facetas da mesma moeda. (...) Uma sociedade livre (...) não é uma sociedade de pessoas libertadas de toda a restrição moral, pois isso é precisamente o oposto de sociedade. Sem restrição moral não pode haver cooperação, nem compromisso familiar, nem perspectivas de longo prazo, nem esperança de ordem econômica, quanto mais social.

Deste modo se molda a nova agenda social: o controle do Estado sobre todos os aspectos da vida pública; a total liberação na esfera privada. Se uma sociedade assim constituída consegue sobreviver e se consegue reproduzir-se são ainda questões em aberto (...). Todavia, a capacidade dos reformadores liberais de ignorar os sinais de decadência social (...) não constitui a mínima prova assinalável de que vivem num mundo de falsas esperanças.

Qualquer pessoa que tenha estudado o destino dos impérios e as dificuldades de estabelecer jurisdição territorial sobre comunidades que diferem em religião, língua e costumes conjugais sabe que a missão é quase impossível e ameaça constantemente soçobrar transformando-se em fragmentação, tribalismo ou guerra civil.

Todas as culturas concedem benefícios às pessoas que crescem em seu seio e as culturas que resistiram ao teste do tempo dão, por isso, prova das suas virtudes. Mas NÃO se segue que essas muitas formas do bem possam ser agregadas. (...)
O multiculturalismo não substituiu esse programa; destruiu-o pura e simplesmente.

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