domingo, 29 de novembro de 2015

O presente de um amigo

Numa homilia recente, com o tema de alguma coisa triste, o padre falou sobre a “necessidade de sentirmos a dor”, um instrumento pra facilitar a empatia com os irmãos (e “pra simular a experiência de Cristo”).


Eu não tinha tido competência pra colocar assim em palavras, mas era mais ou menos isso que eu sentia quanto estava com o Kiko: de alguma maneira, ele tinha “se sacrificado” – limitado a poucos movimentos de alguns dedos e pescoço – para nos ensinar. A experiência com o Kiko era sempre assim: ele me passava muito mais coisa boa do que eu conseguia dar pra ele.



Kiko morreu há 2 anos, meio de repente. Mas não parou de nos dar lições. Ontem, por meio de um trabalho brilhante dos seus pais, Sofia e Edi, e da sua prima, Helena, recebi(emos) um dos melhores presentes da vida: 2 livros com os textos do Kiko.


A mensagem de esperança não poderia vir (a mim) em melhor hora. Foi um ano de perdas dolorosas e com muita angústia no meu coração. Uma amigona em comum, a Ana, deve dizer que é sincronicidade. Egocêntrico, vou concordar.


Kiko, sua passagem em minha vida foi e é uma dádiva. Obrigado pelo tempo juntos e por suas palavras, que agora, mais que nunca, estão eternizadas.


Foto no Facebook do seu pai, Eduardo Haberland

PS: Fale aí com o Homem pra dar uma atenção especial ao nosso SPFC, que a coisa por aqui tá feia...  ;)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Moral e a busca da Verdade

Há algum tempo (décadas?), a palavra ‘moralismo’ passou a ter uma conotação negativa. Essa interpretação faz parte da Guerra pela Linguagem, que, por exemplo, George Orwell tanto fala em 1984, e da Hegemonia Cultural, que Antonio Gramsci pregava. Passou a significar cagação de regra, algo antiquado, obsoleto. E, claro, não é isso.

Existem definições formais elegantes (conjunto de normas aceitas, conjunto de costumes,...), mas o ponto fundamental é que a moral é o elo, é a liga que deixa uma sociedade coesa. Não existe sociedade pacificada em que não haja uma base moral bem aceita e respeitada. É uma coisa construída ao longo do tempo e, justamente por isso, não é algo que ‘se impõe’. Mas, claro, a força de um movimento contrário, de uma ‘contra-base’ moral (que – notem – não é amoral, mas, sim, possui OUTRA base moral) pode enfraquecer a base moral da sociedade. Isso não deve terminar com uma ‘substituição da base moral’, mas sim, com um enfraquecimento da moralidade como um todo, constituindo uma sociedade não-coesa, cada um por si, cada um com seu porrete.
"Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a sua, é bom sairmos por aí, cada qual com seu porrete.” – Eros Grau
O encadeamento do argumento pode levar a pensar que qualquer base moral basta, desde que haja uma amplamente aceita. Mas não; isso é só um artifício de quem quer destruir a base moral existente. E daí vem a segunda parte do meu ponto: a busca da Verdade. Era isso que motivava os filósofos antigos e infelizmente foi substituído por um extremo relativismo recente: “nada é fato; tudo é opinião”. Isso é uma desgraça. É A DESGRAÇA.



Não se trata de carimbar que o que eu acho é Verdade e ponto. Não. Posso estar errado, você pode estar errado e, ao percebermos, mudamos de lado. Mas desistir da busca pela Verdade, como se não houvesse Verdade, como se qualquer coisa fosse uma verdade, isso é o fim de uma sociedade. Evito ser maniqueísta, mas sim, estamos diante de uma ladeira escorregadia. Ao aceitar uma pequena relativização, aceitamos a relativização completa e vamos querer tentar entender e ter empatia pelo erro. Podemos (/devemos) perdoar o pecador, não o pecado.
“Todavia daí não se segue que, se assim o quiser, deixará de ser injusto, passando a ser justo; do mesmo modo que um homem que está enfermo não ficará curado dessa maneira, embora possa ocorrer que um homem esteja doente voluntariamente. (...)O mesmo se dá com o injusto e o intemperante: no começo dependia deles não se tornarem homens dessa espécie, e, assim, é por sua escolha que são injustos e intemperantes. Agora, porém, que são assim, não lhes é possível ser diferentes”. – Aristóteles, em Ética a Nicômaco

Ou seja, existe sim uma base moral que vai levar uma sociedade para o Bem (pelo menos DESSA sociedade) e outras que não levarão.