sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Vida é um fractal da História


Há muitos anos, descobri o prazer da leitura. Mais tarde, com curiosidade, desejo de aprender e influenciado por um ou outro amigo, resolvi postergar o desejo de um mestrado, substituindo os cursos por leituras mais ‘sérias’, mais formais. A ideia era fazer meu próprio curso, aprender o que desse na telha. Ganhei amplitude, perdi profundidade. Nunca mais fiz uma matéria da qual eu não gostava. E fiquei preparado para ser um ‘tudólogo’: enrolar sobre quase todos os assuntos... hehe. E misturar assuntos diversos.
Essa introdução serve apenas para contextualizar uma associação que fiz pela leitura de alguns livros que, a princípio, não teriam nada a ver.

Começo com uma ideia do Nassim Taleb, de "Cisne Negro" e "Iludidos pelo Acaso", crítico do uso sem restrições da curva normal, com suas caudas estreitas. Taleb defende a tese de que alguns eventos de grande impacto são menos raros do que supostamente esperamos (os extremos da distribuição de probabilidades – as caudas – são na verdade mais gordos). Os exemplos disso na História são as guerras e revoluções que nos levaram ao mundo como é hoje. Fosse a História feita apenas pelos dias comuns, estaríamos em um estágio muito anterior. Ao ler esse trecho, imaginei 2 gráficos que se somam. Abaixo, o azul representa a evolução cotidiana, de grão em grão, lenta e segura. O vermelho, as revoluções e grandes mudanças, pontuais, ocasionais, um pouco caótico. A soma, em preto, resulta a evolução da História da humanidade. Passos pequenos somados a grandes saltos.





Retire 2 ou 3 grandes eventos ou grandes dias da História, e estaríamos em tempos MUITO diferentes. Analogia do tempo moderno: a Bolsa parece um ótimo investimento de longo prazo; retire (ou esteja fora dela) os 2 ou 3 dias com maiores valorizações e o rendimento total do período já não será bom.

Ok, e daí?
E daí que li também Nilton Bonder, o rabino cujo principal assunto são nossos confrontos internos, nossos dilemas conscientes e inconscientes. Com paródias judaicas (lembrando que sou bem católico...), ele passeia por filosofia e psicanálise. Gostei muito. ‘Alma imoral’ e ‘Segundas intenções’ são embates sobre a imoralidade da alma com a moralidade do corpo, o bom versus o correto, a evolução versus a preservação. (O jogo das capas dos livros é bem legal: aqui e aqui). Ao longo do texto, fui completando a tabela abaixo. E percebendo que nossas vidas são pequenas versões dos gráficos acima. A grande maioria dos dias é comum, mas nossa vida é fundamentalmente marcada pelos poucos momentos atípicos, por acaso, fora de controle. Uma mesmice com pequenos picos de grandes mudanças. Uma topada com certa pessoa, uma demissão, um acidente de carro, um convite, uma ruptura. Retire 2 ou 3 grandes momentos da vida e estaríamos em outro estágio.



Tanto a composição dos gráficos como a ideia de que pequenas estruturas formam estruturas maiores idênticas são baseadas nos fractais de Mandelbrot.
A vida é um fractal da história da humanidade.



Ao longo dos textos, fui pensando também sobre as implicações políticas ou, mais que isso, nas minhas discussões diárias (já que gosto de discutir...). Será que eu estava delirando, querendo encaixar o mundo ao meu pensamento (e não o contrário), fazer o convidado do tamanho da cama (e não o contrário)? No final de ‘Segundas intenções’, fui presenteado com uma seção voltada mesmo pra política – liberais versus conservadores – tal como eu vinha imaginando ao longo dos textos. Não viajei sozinho.
Não gosto da ideia de que essa separação política não faz mais sentido porque não me considero parte do mainstream esquerdista contemporâneo, não gosto desse ‘é-tudo-a-mesma-coisa’, já que não quero a ‘mesma coisa’ que está aí. Não acho legal tudo caminhar para o centrismo, para a peemedebização. E os livros me permitiram categorizar, rotular algumas dessas diferenças.

Em essência, a direita é o corpo, é a linha azul lá de cima. A esquerda é a alma, a linha vermelha lá em cima.
Em essência, o dia-a-dia tem que ser direitista, com cuidado, com regras, com preservação (Daí, acho que em geral os governos devem ser direitistas). Mas os grandes eventos, as grandes conquistas da humanidade foram realizadas por gente que pensou fora da caixa, esquerdistas, alma. Mas não dá pra ter uma situação esquerdista, é muito “vida-loka”. Direita como default, esquerda como conquista.
Do mesmo modo, em essência, nossa vida tem que ser com cuidado, com regras, com disciplina. Mas os grandes momentos da vida são imorais, são alma, um pouco caótico e sem controle.