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O Contrato Social de Rousseau (...) apresenta um novo
conceito de liberdade humana, de acordo com a qual liberdade é o que nos resta
quando afastamos todas as instituições, todas as restrições, todas as leis e
todas as hierarquias. E seus seguidores acreditavam que essa liberdade, uma vez
obtida, exprimir-se-ia na felicidade e na fraternidade da espécie humana, e não
naquela 'guerra de todos contra todos', que Hobbes descreveu como o verdade
'estado natural'.
(...) a defesa apaixonada [desse conceito] da liberdade foi
mais tarde utilizada para desculpar a tirania dos revolucionários.
(...) resistiu na política, na educação e na filosofia até
os dias de hoje.
As instituições, as leis, as restrições e a disciplina moral
fazem parte da liberdade e não dos seus inimigos, e a libertação dessas
coisas leva rapidamente ao fim da liberdade.
A 'liberdade' disponível num estado natural é uma ilusão -
uma mera 'falta de restrição', mas sem a segurança e o reconhecimento que dota
a liberdade com os seus atributos distintivamente humanos. É a liberdade do 'eu' indomado,
que pode perambular à sua vontade, mas que não tem ideia do valor de estar aqui
em vez de estar ali, de ganhar uma coisa em vez de outra, (...) um eu no seu
imediatismo, que deseja coisas mas não tem o sentido do seu valor. A verdadeira
liberdade envolve não só fazer o que se quer, mas também valorizar o que se
obtém. Envolve planejar, programar, ter razões para agir e conseguir o que se
resolve realizar. E a ideia dominante de Hegel é que todas essas
características são essencialmente características sociais da vontade:
dependem das relações humanas em que os nossos atos e as nossas emoções se
encaixam, e não estão disponíveis fora do contexto fornecido pelas regras e
pelos costumes de uma comunidade que usa uma linguagem e das restrições
mutuamente reconhecidas através das quais não procuramos meramente concretizar
os nossos desejos mas também renunciamos a eles.
A liberdade genuína só aparece quando (...) o conflito se
resolve num estado de reconhecimento mútuo. (...)
O preço dessa liberdade é o preço da reciprocidade.
Responsabilidade e reciprocidade informam todos os modos de
sociedade humana e são as fundações sobre as quais se constrói a paz e a
felicidade. Uma vez que se reconheça isso, porém, temos que reconhecer que as
leis, os costumes, as instituições e as restrições convencionais residem na
própria natureza da liberdade.
Daí não nascermos livres: a liberdade é algo que adquirimos.
E adquirimo-lo através da obediência. Só a criança que aprendeu a respeitar e
acatar os outros pode respeitar-se a si mesma.
A falácia do nascido livre leva (...) às 2 doutrinas (...)
que se tornaram as bases da política educativa desde país: a doutrina de que
nenhuma das partes envolvidas no processo de ensino (nem o aluno, nem o pai,
nem o professor) tem culpa do seu fracasso; e a doutrina de que o Estado deve
investir no fracasso em vez de no êxito.
A liberdade não é um dom da natureza mas o resultado de um
processo educativo, algo que temos que trabalhar para adquirir através de
disciplina e sacrifício.
Cada prova de que a destruição da ordem também era uma perda
de liberdade era interpretada no sentido oposto, como prova de que as coisas
ainda não tinham ido suficientemente longe.
Uma vez que tem que ser verdade que as crianças
nascem livres, quaisquer sinais de que a liberdade e a autonomia não foram
atingidas tem que ser culpa de outros [,pensam os otimistas inescrupulosos].
Elogiei Hegel pelo reconhecimento de
que a liberdade não é um dom natural mas um artefato que construímos em
conjunto através da nossa pertença social partilhada.
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