---
Nas mãos de pensadores menos sutis, esta ideia do 'espírito
do tempo' vulgarizou-se como arma retórica com que justificar a inovação em
todas as esperas e racionalizar o repúdio global ao passado.
Confirmamos a falácia do espírito em movimento sempre que
vemos os atos livres de indivíduos vivos como consequências naturais do
tempo em que vivem. Isso é uma falácia não só por negar a liberdade humana. (...)[Também]
porque aplica um entendimento de progresso derivado da ciência à generalidade
da cultura humana.
Supor que se pode olhar para os nossos próprios tempos neste
quadro mental, que se pode explorar 'o que exige atualmente o Zeitgeist' e até
projetar essa exploração para a frente, para um futuro incogniscível, é cometer
uma perigosa falácia - perigosa porque envolve a limitação da nossa liberdade e
a visão do que é totalmente acidental sob o aspecto de necessidade.
A falácia é agravada pelo mito do 'progresso'.
É
claramente falacioso pensar que esse tipo de progresso é exibido em esferas
onde não há acumulação subjacente de saber sobre a qual construir. É
inerentemente questionável acreditar, por exemplo, que há progresso moral
contínuo que avança à velocidade da ciência; ainda mais questionável é
acreditar que há progresso artístico ou espiritual que marcha ao seu lado.(...)
Nas
artes, no pensamento religioso e na especulação filosófica temos tantas probabilidades
de encontrar declínio como de encontrar melhoria de uma geração para a
seguinte.
A descoberta científica estava a derrubar crenças
consagradas (...) - a era da modernidade. Foi nesse momento que a falácia do
espírito em movimento começou a se proliferar. (...) Que aderir a velhos
costumes, velhos valores, velhas práticas, fosse na política, nas relações
sociais ou na expressão artística, era simplesmente 'reacionário', era não
entender as leis do desenvolvimento histórico e uma recusa da 'nova madrugada'
que estava a abrir-se diante dos nossos olhos. (...)
A crença num espírito em movimento em que a mente da espécie
humana era transportada para um saber, uma competência e um domínio da natureza
cada vez maiores tornou-se (...) uma superstição reinante que teve um efeito
devastador.
A
falácia de ter uma visão retrospectiva de uma coisa que ainda não aconteceu
tornou-se parte integrante do pensamento progressista.
As regras podem ser quebradas mas primeiro tem que ser
incorporadas.
Quanto à falácia do espírito em movimento, deve o seu
atrativo à sua vacuidade: pode ser usada para justificar qualquer coisa, para
anular toda a crítica, ainda que bem informada, e para acolher com grandes
aplausos qualquer ato chistoso de desafio que se possa apresentar como novo. Dá
ao mais arbitrário dos gestos uma aura especiosa de necessidade e neutraliza
assim a crítica antes de ser expressa.
(...)[buscavam] grandes soluções para problemas que nunca
tinham existido.
Subtraiam-se os que fazem lucros e os vândalos, porém, e
pergunte-se às pessoas vulgares como deve ser projetada sua cidade - não para o
seu bem particular, mas para o bem comum - e atingir-se-á um nível
surpreendente de acordo, como mostra o exemplo ao longo do tempo.
A falácia do espírito em movimento [...] é usada para
encerrar a discussão do que devia ser uma questão aberta - a questão do modo
como você e eu devíamos construir, aqui e agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário