sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Falácia do Espírito em Movimento

Trechos escolhidos do capítulo 'Falácia do Espírito em Movimento' em 'As vantagens do pessimismo' de Roger Scruton.
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Nas mãos de pensadores menos sutis, esta ideia do 'espírito do tempo' vulgarizou-se como arma retórica com que justificar a inovação em todas as esperas e racionalizar o repúdio global ao passado.

Confirmamos a falácia do espírito em movimento sempre que vemos os atos livres de indivíduos vivos como consequências naturais do tempo em que vivem. Isso é uma falácia não só por negar a liberdade humana. (...)[Também] porque aplica um entendimento de progresso derivado da ciência à generalidade da cultura humana.

Supor que se pode olhar para os nossos próprios tempos neste quadro mental, que se pode explorar 'o que exige atualmente o Zeitgeist' e até projetar essa exploração para a frente, para um futuro incogniscível, é cometer uma perigosa falácia - perigosa porque envolve a limitação da nossa liberdade e a visão do que é totalmente acidental sob o aspecto de necessidade.

A falácia é agravada pelo mito do 'progresso'.

É claramente falacioso pensar que esse tipo de progresso é exibido em esferas onde não há acumulação subjacente de saber sobre a qual construir. É inerentemente questionável acreditar, por exemplo, que há progresso moral contínuo que avança à velocidade da ciência; ainda mais questionável é acreditar que há progresso artístico ou espiritual que marcha ao seu lado.(...)
Nas artes, no pensamento religioso e na especulação filosófica temos tantas probabilidades de encontrar declínio como de encontrar melhoria de uma geração para a seguinte.

A descoberta científica estava a derrubar crenças consagradas (...) - a era da modernidade. Foi nesse momento que a falácia do espírito em movimento começou a se proliferar. (...) Que aderir a velhos costumes, velhos valores, velhas práticas, fosse na política, nas relações sociais ou na expressão artística, era simplesmente 'reacionário', era não entender as leis do desenvolvimento histórico e uma recusa da 'nova madrugada' que estava a abrir-se diante dos nossos olhos. (...)
A crença num espírito em movimento em que a mente da espécie humana era transportada para um saber, uma competência e um domínio da natureza cada vez maiores tornou-se (...) uma superstição reinante que teve um efeito devastador.

A falácia de ter uma visão retrospectiva de uma coisa que ainda não aconteceu tornou-se parte integrante do pensamento progressista.

As regras podem ser quebradas mas primeiro tem que ser incorporadas.

Quanto à falácia do espírito em movimento, deve o seu atrativo à sua vacuidade: pode ser usada para justificar qualquer coisa, para anular toda a crítica, ainda que bem informada, e para acolher com grandes aplausos qualquer ato chistoso de desafio que se possa apresentar como novo. Dá ao mais arbitrário dos gestos uma aura especiosa de necessidade e neutraliza assim a crítica antes de ser expressa.

(...)[buscavam] grandes soluções para problemas que nunca tinham existido.

Subtraiam-se os que fazem lucros e os vândalos, porém, e pergunte-se às pessoas vulgares como deve ser projetada sua cidade - não para o seu bem particular, mas para o bem comum - e atingir-se-á um nível surpreendente de acordo, como mostra o exemplo ao longo do tempo.


A falácia do espírito em movimento [...] é usada para encerrar a discussão do que devia ser uma questão aberta - a questão do modo como você e eu devíamos construir, aqui e agora.

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