Trechos destacados do capítulo de
'Ideias tem consequências' de Richard Weaver.
Aqueles que procuram fazer as coisas em nome da massa são
os agentes da destruição no meio de nós. Se a sociedade é algo que possa ser
compreendido, ela deve ter uma estrutura; se ela tem uma estrutura, ela deve
ter uma hierarquia. O discurso jacobino se desfaz diante dessa verdade
metafísica.
Deturpação: a inexistência de distinções em uma sociedade
justa.
Chegamos a um ponto em que a seguinte pergunta deve ser
feita com toda seriedade: será que o homem deseja viver em uma sociedade ou em
uma espécie de comunidade animal? Pois, se o banimento de todo tipo de
distinção continuar, não haverá esperança de integração se não no nível do
instinto.
Visto que tanto o conhecimento como a virtude requerem o
conceito de transcendência, eles se tornam realmente detestáveis para aqueles
que estão comprometidos com padrões materiais.
As distinções vocacionais desaparecem, e o novo modo de
organização, se assim podemos chamá-lo, gira em torno da capacidade de consumo
[‘classe média’, ‘classe C’ ao invés de ‘artesãos’, ‘fazendeiros’...].
Se dermos mais importância ao sentimento do que ao
pensamento, em breve daremos mais importância – por mera extensão – ao desejo
do que ao merecimento.
Ordens e graus não entram em conflito com a liberdade, mas
se harmonizam com ela.
O conforto se torna um fim quando as distinções de posição
são abolidas e os privilégios, destruídos.
A história nos mostra exaustivamente que, quando os
reformadores chegam ao poder, eles simplesmente colocam uma hierarquia
burocrática no lugar da outra.
Diante da afirmação de que todos os homens são criados
livres e iguais, pergunta-se se não seria mais correto dizer que nenhum homem
jamais foi criado livre e que nunca dois homens sequer foram criados iguais.
Esse igualitarismo é nocivo porque ele sempre se apresenta
como um reparador da injustiça, quando na verdade se trata justamente do
contrário. (...) A “igualdade” frequentemente é encontrada na boca daqueles que
estão comprometidos com uma engenhosa autopromoção.
A harmonia não depende da quimérica ideia de igualdade, mas
de fraternidade. (...) Ela coloca as pessoas em uma rede de sentimentos, e não
de direitos.
Quanto da frustração do mundo moderno não procede do dar por
pressuposta igualdade entre todos, da subsequente percepção de que isso não é
possível e, então, do reconhecimento de que já não podemos recorrer ao elo da
fraternidade?!
Onde o homem percebe que a sociedade pressupõe posições
hierárquicas, os que estão nos postos mais altos e mais baixos veem que seus
esforços contribuem para um fim comum, e eles estão antes em harmonia uns com
os outros, e não em concorrência. É uma regra geral que as partes do mundo que
menos falaram sobre igualdade tenham apresentado, na realidade tangível da vida
social, o maior grau de fraternidade.
[Esquerdista] furioso por ter descoberto que servos e outros
de posição inferior não se ofendiam com a sua condição.
Os humanitaristas descobriram que a igualdade perante a lei
não tem efeito sobre as diferenças de habilidade e realização. (...) Somente o
despotismo podia impor algo tão irrealista.
Se a democracia significa oportunidade de progresso, então
ela pressupõe a chance de alguém se sobressair em relação aos menos favorecidos
e assim ocupar uma posição definida com referência a graus superiores e
inferiores.
O próprio termo ‘eleição’ quer dizer discriminação. (Como é
possível escolher o melhor homem quando, por definição [para esquerdistas], não
há o melhor?)
Em um período de crise [guerra, por exemplo], (...) submete-se
a um grupo de ‘elite’ que sabe o que deve ser feito. (...) Quando um fim mais
elevado se torna imperativo, ele delega a autoridade a ponto de colocá-la além
do seu próprio controle.
Construíram faculdades na mesma escala, mas tiveram de
conformar-se com vê-las transformadas em parques de diversão para adultos
imaturos. (...) A fórmula da educação popular enfraqueceu a democracia porque se
revoltou contra a ideia de sacrifício, o sacrifício do tempo e dos bens
materiais, sem o qual não pode haver educação da disciplina intelectual.
Geração do homem econômico, cujo destino é a mera atividade.