sábado, 16 de agosto de 2014

Distinção e Hierarquia

Trechos destacados do capítulo de 'Ideias tem consequências' de Richard Weaver.

Aqueles que procuram fazer as coisas em nome da massa são os agentes da destruição no meio de nós. Se a sociedade é algo que possa ser compreendido, ela deve ter uma estrutura; se ela tem uma estrutura, ela deve ter uma hierarquia. O discurso jacobino se desfaz diante dessa verdade metafísica.

Deturpação: a inexistência de distinções em uma sociedade justa.

Chegamos a um ponto em que a seguinte pergunta deve ser feita com toda seriedade: será que o homem deseja viver em uma sociedade ou em uma espécie de comunidade animal? Pois, se o banimento de todo tipo de distinção continuar, não haverá esperança de integração se não no nível do instinto.

Visto que tanto o conhecimento como a virtude requerem o conceito de transcendência, eles se tornam realmente detestáveis para aqueles que estão comprometidos com padrões materiais.

As distinções vocacionais desaparecem, e o novo modo de organização, se assim podemos chamá-lo, gira em torno da capacidade de consumo [‘classe média’, ‘classe C’ ao invés de ‘artesãos’, ‘fazendeiros’...].

Se dermos mais importância ao sentimento do que ao pensamento, em breve daremos mais importância – por mera extensão – ao desejo do que ao merecimento.

Ordens e graus não entram em conflito com a liberdade, mas se harmonizam com ela.

O conforto se torna um fim quando as distinções de posição são abolidas e os privilégios, destruídos.

A história nos mostra exaustivamente que, quando os reformadores chegam ao poder, eles simplesmente colocam uma hierarquia burocrática no lugar da outra.

Diante da afirmação de que todos os homens são criados livres e iguais, pergunta-se se não seria mais correto dizer que nenhum homem jamais foi criado livre e que nunca dois homens sequer foram criados iguais.

Esse igualitarismo é nocivo porque ele sempre se apresenta como um reparador da injustiça, quando na verdade se trata justamente do contrário. (...) A “igualdade” frequentemente é encontrada na boca daqueles que estão comprometidos com uma engenhosa autopromoção.

A harmonia não depende da quimérica ideia de igualdade, mas de fraternidade. (...) Ela coloca as pessoas em uma rede de sentimentos, e não de direitos.

Quanto da frustração do mundo moderno não procede do dar por pressuposta igualdade entre todos, da subsequente percepção de que isso não é possível e, então, do reconhecimento de que já não podemos recorrer ao elo da fraternidade?!

Onde o homem percebe que a sociedade pressupõe posições hierárquicas, os que estão nos postos mais altos e mais baixos veem que seus esforços contribuem para um fim comum, e eles estão antes em harmonia uns com os outros, e não em concorrência. É uma regra geral que as partes do mundo que menos falaram sobre igualdade tenham apresentado, na realidade tangível da vida social, o maior grau de fraternidade.

[Esquerdista] furioso por ter descoberto que servos e outros de posição inferior não se ofendiam com a sua condição.

Os humanitaristas descobriram que a igualdade perante a lei não tem efeito sobre as diferenças de habilidade e realização. (...) Somente o despotismo podia impor algo tão irrealista.

Se a democracia significa oportunidade de progresso, então ela pressupõe a chance de alguém se sobressair em relação aos menos favorecidos e assim ocupar uma posição definida com referência a graus superiores e inferiores.

O próprio termo ‘eleição’ quer dizer discriminação. (Como é possível escolher o melhor homem quando, por definição [para esquerdistas], não há o melhor?)

Em um período de crise [guerra, por exemplo], (...) submete-se a um grupo de ‘elite’ que sabe o que deve ser feito. (...) Quando um fim mais elevado se torna imperativo, ele delega a autoridade a ponto de colocá-la além do seu próprio controle.

Construíram faculdades na mesma escala, mas tiveram de conformar-se com vê-las transformadas em parques de diversão para adultos imaturos. (...) A fórmula da educação popular enfraqueceu a democracia porque se revoltou contra a ideia de sacrifício, o sacrifício do tempo e dos bens materiais, sem o qual não pode haver educação da disciplina intelectual.

Geração do homem econômico, cujo destino é a mera atividade.


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