quinta-feira, 2 de julho de 2009

Live together. Die alone.

Quero discorrer sobre a natureza solitária das nossas tristezas, desafios, frustrações. Por mais que tenhamos família e amigos presentes, ‘meu’ problema é só ‘meu’.
“As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros.” – Oscar Wilde.
Se eu tenho uma amiga que está chateada no trabalho, posso ouvir, conversar, dar meu ombro, mas ela vai ter que se virar sozinha. Se tenho um amigo que passa por um grande trauma amoroso, posso estar ao lado o tempo todo, mas ele vai ter que se superar por si só. Não adianta eu sofrer um pouco, para que ele sofra menos... Não é 'transferível'...
Fiz essa introdução para falar do meu avô.
Seu Walter completou 79 anos no último domingo. Tive o prazer de passar o dia ao lado dele. Fumante desde adolescente, meu avô tem sérias dificuldades para respirar. A capacidade pulmonar é ínfima; muito catarro e tosse o tempo todo, parecendo que mais alvéolos estão sendo eliminados. Triste. Sempre muito ativo, há alguns meses está 'condenado' ao sofá e à cama, com rápidas passagens pelo banheiro e pela mesa da cozinha para pouco comer. Nos últimos 2 anos, passou por constantes internações e depende do balão de oxigênio para dormir. Vou parar com a descrição...
Nesses 2 anos, toda vez que íamos visitá-los em Minas (a família do meu pai é de lá), despedíamo-nos com receio de que fosse a última vez. A possibilidade da morte foi ficando cada vez maior, mais presente. Sempre rezei para que ele viva enquanto queira e que queira por muito tempo. Mas ficava triste, óbvio.
Nesse último final de semana, foi um pouco diferente. Senti que meu avô está mais triste, mais solitário. Muito católico, sempre acompanhado da minha avó – mais católica, impossível – percebi que meu avô está sentindo a morte por perto e fica com receio do que vai acontecer de verdade... Tive a sorte de ter pouco contato com mortes, mas tenho a sensação de que não é mais tão comum 'morrer aos poucos'.
Meu avô sempre esteve cercado de muita gente: muitos irmãos, muitos filhos, muitos netos, muitos clientes,... Mas está tendo que enfrentar 'essa fase' sozinho... Lógico: está cercado de cuidados, medicações, carinho. Mas o desafio é só dele.
Como já faz tempo que ele está fraquinho, a imagem do meu avô superativo está ficando cada vez mais turva, mais distante. E é triste. A verdade é que meu avô não vive mais; apenas sobrevive. Fez o que tinha que fazer, cumpriu a missão, combateu o bom combate.
E eu, de minha parte, o 'liberei'. Seu Walter me ensinou sobre dois dos principais pilares da vida: FAMÍLIA e TRABALHO. Foi um exemplo nesses quesitos. E bem sucedido ao transmiti-los às gerações seguintes.
Sei que ele não vai ler este post. Mas logo vai saber não só o que eu escrevo, mas também como penso e ajo. E estará me protegendo.
Vô, obrigado. Fique em paz...

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