Entendo que o anonimato em um trabalho voluntário o deixa até mais bonito. Aquela coisa de ‘fazer o bem’ só para ‘dizer que está fazendo o bem’ não é legal...
Mas, nesse post, não vou ser tão nobre e vou falar da minha vivência no assunto.
Aprecio muito o voluntariado. Acredito que é uma forma da sociedade civil fazer um pouquinho também. Não deixar tudo por conta do poder público. Nas entrevistas que realizo (em sua maioria, com candidatos a manobristas), quem fez algum tipo de trabalho voluntário já está contratado.
Conceitualmente, prefiro voluntariado ‘construtivo’ ao ‘assistencialista’ (Essas classificações são minhas. Não sei se os centros têm nomenclaturas mais adequadas). Já tinha trabalhado dando aulas de ‘Economias Pessoais’ em uma escola estadual, com o material da Junior Achievement de São Paulo.
Mas, no meio do ano passado, quis me aproximar de realidades mais ‘duras’, (talvez para esquecer as minhas) e pensei em trabalhar em hospitais (pois é, nada construtivo...). Recebi um email do Canto Cidadão – famoso por seus Doutores Cidadãos – e aceitei o desafio. Ainda arrastei minha prima Fê e minha amiga Mari.
Existe uma lei que obriga todo hospital público a ter um espaço para brinquedoteca. Essa ONG resolveu capacitar voluntários, junto com a Secretaria de Saúde, para deixar as salas de brincar por mais tempo abertas. Foram 3 meses de capacitação para atuar como ‘brinquedista’ em hospitais públicos. Depois, por uma questão burocrática, não pudemos mais usar o nome ‘brinquedista’ (só quem se graduou em terapia ocupacional pode!) e passamos a ser os ‘amenizadores’...
Achei os 2 fundadores do Canto meio ‘malas’, mas nossos instrutores Dr Penne Pelicano e Dr Miojo Pena Branca são pessoas especiais. Sou grato por eles terem aparecido em minha vida. Mudei alguns valores.
Enfim, no início desse ano comecei a atuar no Hospital Municipal Artur de Saboya, no Jabaquara. Uma brinquedoteca diferente, toda patrocinada pela Kibon. E, desde então, tenho alguns sábados tensos.
Fico das oito ao meio-dia. É muuuito tempo. Por ter muito brinquedo (o que no fundo é bom), as crianças geralmente não se fixam e ficam pulando de um em um. Quando já rodamos uns 4 ou 5 brinquedos, ainda são 8h45... O setor é grande. Cheguei a ter DEZ crianças ao mesmo tempo na sala. Geralmente pintamos, vemos DVD (‘Monstros SA’ e ‘Tigrão’), brincamos com o carrinho de cachorro-quente, tem boneca e carrinho, passamos pelo ‘Olho de Lince’ e ‘Quebra-Gelo’... Já brinquei com guache (mas me arrependi...)
Parece que é tudo lindo, tudo de bom, mas não é. É um clima tenso, uma energia pesada. Saio carregado. Já vi alguns tipos bem pesados de doenças e curativos. Lógico que para um profissional da área de saúde, tudo isso é frescura. Mas não é o meu caso...
Não espero que o trabalho voluntário seja prazeroso. É preciso que faça o ‘bem’; não necessariamente que ‘me faça bem’. Mas, concordo com o Dr Miojo quando disse, em uma das aulas, que o trabalho voluntário é, em essência, egoísta. Parece que buscamos eliminar os conflitos na nossa consciência, reduzir a tensão, como quem diz para si mesmo: ‘eu fiz minha parte’...
No final do mês, tenho uma oficina de dobraduras no Canto. Será mais um instrumento para ajudar a passar o tempo e de fato amenizar o ambiente. Mas não sei se duro muito. Vou começar a procurar outro egoísmo, mais ameno.
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