A resposta de Chesterton pode ser considerada arrogante – como se acha tão importante? – mas dadas sua história e sua mensagem, acredito que se trata da humildade de autorresponsalização e busca da verdade.
Num mundo perdido, a pergunta
volta a nos atormentar. Onde foi que erramos? Não tendo a evolução espiritual
de um Chesterton, sugiro 3 possibilidades.
1. NOBLESSE (SANS)
OBLIGE
Historicamente, à classe
dominante era permitida alguma espécie de ‘vida boa’ COM A CONTRAPARTIDA de
algum tipo de sacrifício: ‘a nobreza obriga’. (Ir para guerra, por exemplo). Com
o materialismo das últimas décadas (e o consequente distanciamento de qualquer
tipo de espiritualidade), as obrigações (morais) das elites deixaram de ser
necessárias ou, talvez, ‘exigidas’. A ruptura da tensão entre o prazer e o
sacrifício rompe também o sentido de vida dessa nobreza, que passa a se sentir
culpada. (Um bom teste é perceber a diferença de acepção de mundo entre ricos
que nasceram ricos – ‘sem sacrifícios’ – e de ricos que se tornaram ricos ao longo da vida).
Acredito que todo esse discurso vazio de “qualquer coisa--social" é mera
tentativa de expiar a culpa, aquela consciência de ter uma vida boa sem ter
feito nada para isso, uma "muleta para autoestima".
Olavo
de Carvalho faz essa análise de forma brilhante no seu texto ‘Fórmula para
enlouquecer o mundo’, do qual separo alguns trechos aqui.
2. CONTROLE DOS
IMPULSOS
Certa vez, numa homilia, o padre desafiou: precisamos decidir
se vamos seguir Cristo – desafiando as tentações do Diabo – ou se vamos seguir
Freud – para quem, todo desejo reprimido volta na forma de algum trauma ou
coisa do tipo. Achei interessantíssimo, mesmo para não religiosos e não psicanalistas. Não tenho
certeza se o culpado é Freud mesmo, mas sem dúvida alguma, o mundo moderno (e
suas ‘ressignificações’) mudou o conceito de liberdade para uma mera ‘ausência
de restrições’, uma coisa bem tribal, como Roger Scruton detalha em seu ‘As vantagens do pessimismo’. A civilização é JUSTAMENTE controlar os impulsos para o bem do
todo. A ideia vigente de fazer o que der na telha é um convite à barbárie, um
passo pra trás na história. É evoluído controlar os impulsos; seu oposto é uma tribo ou uma geração frustrada e mimizenta.
3. DIREITOS E
CARIDADE
É óbvio, mas obviedades
precisam ser ditas: quando alguém ganha um direito, alguém ganhou um dever
(normalmente a ‘sociedade’). Um mundo com excesso de direitos é um mundo com
excesso de deveres. Mas o problema aqui é que, como Richard Weaver mostra em seu ‘Ideias tem consequências’, a noção de direitos invadiu a noção de caridade.
Relações saudáveis através da caridade passam a ser negativas com a obrigatoriedade
do dever/direito.
O que talvez essas características tenham em comum é o FINGIMENTO, quase que uma busca pelo auto-engano. Dostoevsky já nos ensinou isso em Irmãos Karamazov:
“Above all, don't lie to yourself. The man who lies to himself and listens to his own lie comes to a point that he cannot distinguish the truth within him, or around him, and so loses all respect for himself and for others. And having no respect, he ceases to love.”
Quero fechar, voltando à resposta de GK Chesterton: cada um precisa lutar consigo para não virar um filho da puta. O resto é mentira e ilusão. (Lucas Mafaldo)
Roger Scruton também concorda com isso:
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