sábado, 18 de maio de 2019

Essa quadra



Essa quadra definiu minha vida.

24 anos depois de ter pisado aqui pela primeira vez, volto para assistir a meu sobrinho. Dessa vez, na arquibancada ‘do lado de lá’.

Essa quadra definiu minha vida. Aprendi a ganhar e perder. Aprendi a ser protagonista (de vez em quando) e ser coadjuvante (quase sempre).

Impossível não lembrar daquele 2x1 contra o Corinthians, em que o goleiro Rubinho, irmão do Zé Elias, por pouco não quebrou minha coluna. Joguei demais aquele dia. Daquele 4x0 no Ypiranga, com a rivalidade contra o Cacá, moleque bom de bola, que eu soube depois que morreu cedo. Enfrentei o irmão dele – Neto ou Junior, algo assim – mais tarde, pela Poli contra a Paulista. Ele nem deve saber quem sou eu, mas eu tenho esse mau hábito de ter boa memória. Daquele 5x1 na Portuguesa. Aquela vitória contra a GM, provavelmente o meu melhor jogo da vida. Aquela pancadaria contra o Rolamentos... Cheguei a treinar mais de 20 horas por semana nessa quadra...

Quem olha esse gordo, careca, estressado, nem imagina que fui um capitão equilibrado. Nem imagina que já fui bom nisso. Nem imagina que já fui bom em alguma coisa...

Essa quadra me deu amigos até hoje. (Outros malquistos, é verdade.)

Essa quadra me deu professores. Professor Buzina, Professor Wagnão. Pqp, que saudades. Marcinho, Claudinho,... Edson Negão, melhor massagista (“““fisio”””) desse mundo. Pqp, que saudades.

Nessa quadra, Vô, o roupeiro, jogou a 13 pra mim pela primeira vez, número com o qual joguei pelo resto da vida e até hoje está na minha assinatura.

Essa quadra me permitiu abandonar a Olimpíada Brasileira de Matemática, da qual era ‘obrigado’ a participar pela bolsa escolar.

E ele sempre lá, me assistindo. Seja aqui no CMSP, seja na AABB, seja aqui no CMSP, seja no Portuários de Santos, seja aqui no CMSP, seja no Ceret, seja aqui no CMSP, seja na Federação... Meu pai estava sempre lá, na arquibancada. Nem sempre fui titular, nem sempre joguei bem, nem sempre dei orgulho pra ele – a rigor, poucas vezes – mas ele sempre lá. Isso definiu minha infância e adolescência. Minha família não podia viajar, não podia fazer outra coisa; não podíamos nada além de jogar futsal todo final de semana.

Cheguei tantas vezes com meu pai. Hoje chego com meu filho. Ele não tem ideia que essa quadra definiu minha vida.

Essa quadra me impôs uma decisão: ‘e aí, vai continuar comigo ou vai estudar?’. E eu a abandonei...
(Na verdade, a princípio, só a troquei por outras. Essa quadra me permitiu ter momentos inesquecíveis lá no CEPEUSP, lá na FUPE, lá em Santa Bárbara do Oeste, Pindamonhangaba ... É verdade que vesti mais a camisa azul-e-amarela da Poli do que essa aqui do CMSP, mas a origem está aqui. )

Sim, foi um abandono. Foi aqui que larguei o sonho de todo moleque – ser um jogador de futebol – para ser alguma outra coisa. Não sei ainda o que me tornei, o que sou ou o que serei, mas alguma coisa não-jogador-de-futebol.

Tudo que existiu jamais deixa de existir.
Essa quadra sorri pra mim e eu sorrio de volta.
Essa quadra definiu minha vida.

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