24 anos depois de ter pisado aqui pela primeira vez, volto
para assistir a meu sobrinho. Dessa vez, na arquibancada ‘do lado de lá’.
Essa quadra definiu minha vida. Aprendi a ganhar e perder.
Aprendi a ser protagonista (de vez em quando) e ser coadjuvante (quase sempre).
Impossível não lembrar daquele 2x1 contra o Corinthians, em que
o goleiro Rubinho, irmão do Zé Elias, por pouco não quebrou minha coluna. Joguei
demais aquele dia. Daquele 4x0 no Ypiranga, com a rivalidade contra o Cacá, moleque
bom de bola, que eu soube depois que morreu cedo. Enfrentei o irmão dele – Neto
ou Junior, algo assim – mais tarde, pela Poli contra a Paulista. Ele nem deve
saber quem sou eu, mas eu tenho esse mau hábito de ter boa memória. Daquele 5x1
na Portuguesa. Aquela vitória contra a GM, provavelmente o meu melhor jogo da
vida. Aquela pancadaria contra o Rolamentos... Cheguei a treinar mais de 20 horas por semana nessa quadra...
Quem
olha esse gordo, careca, estressado, nem imagina que fui um capitão
equilibrado. Nem imagina que já fui bom nisso. Nem imagina que já fui bom em alguma coisa...
Essa quadra me deu amigos até hoje. (Outros malquistos, é
verdade.)
Essa quadra me deu professores. Professor Buzina, Professor
Wagnão. Pqp, que saudades. Marcinho, Claudinho,... Edson Negão, melhor massagista (“““fisio”””) desse
mundo. Pqp, que saudades.
Nessa quadra, Vô, o roupeiro, jogou a 13 pra mim pela primeira vez, número com o qual joguei pelo resto da vida e até hoje está na minha assinatura.
Nessa quadra, Vô, o roupeiro, jogou a 13 pra mim pela primeira vez, número com o qual joguei pelo resto da vida e até hoje está na minha assinatura.
Essa quadra me permitiu abandonar a Olimpíada Brasileira de
Matemática, da qual era ‘obrigado’ a participar pela bolsa escolar.
E ele sempre lá, me assistindo. Seja aqui no CMSP, seja na
AABB, seja aqui no CMSP, seja no Portuários de Santos, seja aqui no CMSP, seja
no Ceret, seja aqui no CMSP, seja na Federação... Meu pai estava sempre lá, na
arquibancada. Nem sempre fui titular, nem sempre joguei bem, nem sempre dei
orgulho pra ele – a rigor, poucas vezes – mas ele sempre lá. Isso definiu minha
infância e adolescência. Minha família não podia viajar, não podia fazer outra
coisa; não podíamos nada além de
jogar futsal todo final de semana.
Cheguei tantas vezes com meu pai. Hoje chego com meu filho.
Ele não tem ideia que essa quadra definiu minha vida.
Essa quadra me impôs uma decisão: ‘e aí, vai continuar comigo
ou vai estudar?’. E eu a abandonei...
(Na verdade, a princípio, só a troquei por outras. Essa quadra
me permitiu ter momentos inesquecíveis lá no CEPEUSP, lá na FUPE, lá em Santa
Bárbara do Oeste, Pindamonhangaba ... É verdade que vesti mais a camisa
azul-e-amarela da Poli do que essa aqui do CMSP, mas a origem está aqui. )
Sim, foi um abandono. Foi aqui que larguei o sonho de
todo moleque – ser um jogador de futebol – para ser alguma outra coisa. Não sei
ainda o que me tornei, o que sou ou o que serei, mas alguma coisa
não-jogador-de-futebol.
Tudo que existiu jamais deixa de existir.
Essa quadra sorri
pra mim e eu sorrio de volta.
Essa quadra definiu minha vida.
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