quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Ao Dinho

Dinho não deveria andar de bicicleta, Dinho não deveria dirigir, Dinho não deveria beber cerveja, Dinho não deveria fazer tantas cirurgias. Dinho não deveria viver mais que alguns meses: Dinho viveu por mais de 40 anos.

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez." (Mark Twain)

Dinho se libertou... Pode cair... Pode beber... Não tem mais curativos pra fazer.

Às vezes, queremos ver levitações, mares se abrindo, milagrinhos inúteis, como se Deus fosse um curandeiro. E - cegos infieis - não percebemos o milagre que foi Deus permitir o Dinho por tanto tempo entre nós.

Impossível falar do Dinho sem falar de todos que o cercaram, especialmente a Cida. Lembro dela quando leio sobre o sentido da vida. "O propósito da vida é encontrar o maior fardo que você pode suportar - e suportá-lo”, diz Jordan Peterson. “O dever, por mais tedioso ou doloroso que pareça, é o único sentido da vida”, diz Olavo de Carvalho. Talvez esteja tudo resumido em uma das mensagens centrais do Evangelho: viver é servir. E a Cida serviu. Dia e noite. Incansável. Por mais de 40 anos. Guerreira. Santa.

A história do Dinho e da Cida também me fazem lembrar da passagem de Santo Antão no deserto. Após lutar por muito tempo contra o demônio, ele suplica: “Senhor, onde estavas? Por que não viestes antes para me salvar?”. Jesus responde: “Eu estava aqui o tempo todo, Antão. Mas eu queria te ver lutar”. Diante de uma luta cotidiana, inglória, sem possibilidade de regressão da doença, o Dinho e a Cida lutaram. Eles carregaram suas cruzes, ele choraram; mas serão consolados. (Mt 5;4)

Nesse momento difícil, rezo também por todos os acometidos por doenças raras. E também – talvez principalmente – pelos seus pais. Pais que, na gravidez ou no parto, tiveram uma notícia inesperada e tiveram que mudar todos seus projetos, seus sonhos. Que carregam suas cruzes, muitas vezes sozinhos, muitas vezes sem saber o caminho. Que eles encontrem luz e força. Deus quer vê-los lutar.

Rezo também pelo Rodrigo. Um cara especial que, desde criança, soube se colocar com muito amor como o “outro” filho. Uma tarefa muito difícil para todos nós, desejosos do carinho e da atenção de nossas mães. 

O melhor que podemos esperar dessa vida é conseguir trilhar algum caminho de santidade, sendo exemplos para outros. O Dinho, a Cida e o Rodrigo são exemplos pra nós. Que aprendamos com eles.

Termino com um trecho de Shakespeare:

"Seria odiá-lo mantê-lo mais tempo na roda de tortura que é este mundo. (...) E é espantoso que tenha resistido assim; VIVEU MUITO ALÉM DA PRÓPRIA VIDA." (Rei Lear, Shakespeare, na tradução de Millor) 

Um brinde ao Dinho!


Um comentário:

  1. Emocionante...tanta fé,tanta luta..Mas Deus sempre no comando.
    Descanse em paz Dinho!

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