sábado, 25 de julho de 2009

Cutucada

Richard Thaler será o próximo Nobel de Economia. Haha. É só um chute, metido a previsão.
Não sou suficientemente competente para julgar se seria justo (ou se existem outras pessoas mais merecedoras...), mas, no mínimo, eu gostaria.
Daniel Kahneman, Nobel de 2002, assumiu, no Congresso da ANBID em junho deste ano, que está ‘torcendo’ pelo colega Thaler.
Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago, é o criador do conceito de nudge. A melhor tradução talvez seja ‘cutucada’ ou ‘empurrãozinho’. Por trás, está a idéia de ‘paternalismo libertário’. O próprio autor sabe que esses dois termos são quase antagônicos e com muita rejeição... Mas defende que, juntos, podem ajudar a resolver alguns problemas públicos e privados.
Sua teoria está enraizada na economia comportamental. Os agentes econômicos definitivamente não tomam as decisões ‘mais racionais’ (para se aprofundar no assunto, ver a Teoria do Prospecto de Kahneman – de novo ele – e Tversky). Cabe, então, a algumas entidades (empresas e gestores públicos) a criação de uma arquitetura de escolha que induza, empurre, cutuque as pessoas para uma decisão mais apropriada. ‘Paternalismo’ porque direciona para uma decisão mais correta e ‘libertário’ porque a pessoa sempre tem a opção de não tomar tal decisão. Pode-se dizer que nem sempre a tal entidade pode julgar o que é o ‘mais correto’. Sim, é verdade, e o nudge pode ser usado para o mal. Mas o fato é que existem comportamentos que são sabidamente desejáveis e as pessoas têm dificuldades para caminhar sozinhas na direção correta.
Para descomplicar, um exemplo: o ‘Poupe mais amanhã’. De maneira geral, os brasileiros têm muita dificuldade para poupar. Todo projeto de poupança se desmorona na primeira promoção. Uma cutucada que a empresa pode realizar é a criação de um contrato, já na admissão, com um percentual do salário sendo direcionado para uma poupança (ou um plano de previdência), crescente ano a ano. Ninguém quer poupar hoje, mas não liga de poupar amanhã. Quando se completa 1 ano, o percentual direcionado para poupança aumenta automaticamente e, por inércia, o funcionário deixa assim. É ‘paternalismo’ porque direciona para uma decisão (no caso, obviamente, saudável) e é ‘libertário’ porque o funcionário pode, a qualquer momento, desistir do plano.
Em um momento de crise, em que os fundamentos do livre mercado estão sendo questionados e a economia comportamental ganha força, não será surpresa um Nobel nessa linha.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Não

Mais um casal amigo, com muitos anos de namoro, se separou. Tem sido recorrente...
É lógico que, quando penso assim, estou influenciado pelo viés da ‘disponibilidade’, que Kahneman e Tversky detalham em sua ‘Teoria do Prospecto’: acontece quando um evento menos freqüente vem à mente com mais facilidade do que um mais corriqueiro porque ‘chama mais atenção’, distorcendo nossa noção de probabilidade. O exemplo clássico é a morte em um acidente de avião versus em automóvel. As pessoas normalmente têm mais medo de viajar de avião porque as quedas de avião são mais impactantes do que os acidentes de automóvel, embora muito mais pessoas morram num carro do que num avião. Quero dizer, tenho muitos casais amigos que ‘permanecem juntos’, mas isso chama menos atenção do que longos relacionamentos que terminam.
Viés à parte, continuo... Mais um casal amigo terminou.
Outro dia saiu uma reportagem na Folha analisando a quantidade de casamentos e de divórcios. A evolução do segundo quando comparado com o primeiro é incrível. Mas nem vou procurar o link da reportagem porque, no meu círculo de amizade, a maioria dos relacionamentos ainda está no status ‘namoro’ e não no ‘casamento’, hehe, e a pesquisa não capta esse estágio inicial.
No fundo, não acho que os relacionamentos da ‘geração dos meus pais’ eram mais bonitos, mais verdadeiros. Acho só que, hoje, as pessoas têm mais coragem de dar um pé. Não sou nem me proponho a falar como um especialista no assunto. São só palpites mesmo... Talvez a constante ascensão da posição da mulher na sociedade dê mais autonomia e coragem a elas. Talvez um ambiente profissional mais competitivo deixe as pessoas mais egoístas, com pouca paciência para viver a dois e considerando-se auto-suficientes. O fato é que os relacionamentos estão (ou, levando-se em conta o viés, pelo menos, parecem) mais efêmeros, ‘menos eternos’.
Não gosto de Chico Buarque, mas a canção não podia ser mais apropriada:
“Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada de um grande amor
Mentira”

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sempre falta

Tenho a formação em exatas, mas nos últimos anos tenho desenvolvido um gosto especial pela Psicologia. Gosto do assunto. Gosto de terapia.
Os filósofos antigos ‘pensavam’ sobre todas as coisas... A separação ‘até aqui é Psicologia, a partir dali é Economia’ é um capricho dos últimos 2 séculos. Essa divisão cria uma zona cinzenta.
Na minha pós de economia, já tinha me interessado pela (única) matéria sobre Economia Comportamental. Esse ramo da economia não é muito bem visto pelo mainstream, talvez porque trabalhem com menos números...
Mais tarde, tive a oportunidade de ler “Psicologia Econômica: Estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão”, da Dra Vera Rita Mello Ferreira, que faz um grande apanhado de tudo que já foi escrito nessa linha. Muito bom.
Com a minha nova vida profissional, fui atrás de algum curso de educação continuada (um bom hábito semestral que tenho desde que terminei a pós) que falasse sobre o processo de tomada de decisão, e fui parar no COGEAE/PUC com o curso “Psicanálise e Psicologia Econômica”, com a professora e doutora Vera Rita. (Ela está indo para a FIPECAFI. Aconselho fortemente!). Procurando algo sobre tomada de decisão econômica, ganhei de brinde uma palhinha de Psicanálise. Foi um excelente curso.

Acho que o interessante no aprendizado da Psicologia é a apresentação de alguns conceitos que fazem um grande ‘clique’ na hora que se ouve pela primeira vez. Depois, ao tentar se colocar num papel ou contar para um amigo, o tal conceito chega a ser bobo, de tão óbvio.
(Lógico que foram apenas algumas pinceladas, não podendo ser comparadas a qualquer disciplina meia-boca de um curso de graduação.)

Foi o que aconteceu comigo quando a Vera falou sobre a eterna sensação de ‘falta, ausência, incompletude’. Deu um ‘clique’, me percebi. A vida é isso.
A vida é saber lidar com a frustração.
O que te deixa triste pode até ser maior do que o que me deixa triste, mas se você tem uma estrutura melhor para lidar com essa frustração, você será mais feliz. Simples, né? Bobo até.
Mas nossa vida é isso. Quando estou com um problema no trabalho, nem me lembro dos rolos amorosos ou da minha família. “Se eu não estivesse com esse problema, seria feliz”, pensamos. Resolvo o pepino do trabalho e, no mesmo momento, parece que o clima com a família ficou mais tenso... Sempre falta alguma coisa. Não é raro ver nos sites de relacionamento (Orkut, Facebook, ...) pessoas que se definem “com medo, de tão felizes”. Excluindo as que escreveram isso apenas para se enganarem com uma falsa felicidade, as que estão realmente felizes sabem que daqui a pouco alguma coisa de ruim deve acontecer...
Kant falou em 1789: “Dê a um homem tudo o que ele deseja, e ele, apesar disso, naquele mesmo momento, sentirá que esse tudo não é tudo”.
Acho que os psicólogos chamam tudo isso de ‘impulso de vida’, aquela força que nos faz desejar acordar todo dia.
O ‘clique’ na aula falada deve ter sido melhor do que nesse texto...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Numa ilha deserta

Um homem se vê sozinho numa ilha deserta, apenas com uma musa famosa. Sem muita opção, eles começam a se relacionar... Semanas depois, para não ficar na mesmice, ela se oferece para realizar 'qualquer desejo dele, o que ele mais quisesse'... Ele não pensa muito e sugere:
"Vista minhas roupas e dê uma distância de alguns metros. Quando eu falar 'já', comece a caminhar em minha direção". Sem entender muito, ela aceita. Quando estão chegando perto um do outro, o rapaz diz:
"Porra, cara! Você não sabe quem eu tô comendo!"

A piada ilustra o desejo que os homens têm de se vangloriar. Não tem valor transar com a musa famosa, se não se pode contar para ninguém.

Quando eu deixei de trabalhar no banco para começar a trabalhar no estacionamento, obviamente fiz toda a relação de prós e contras. Na lista dos 'contras', estavam a instabilidade do negócio, a responsabilidade civil, a falta de evolução técnica,...
Mas não tinha listado (porque não sabia!) o que mais sinto falta: a conversa diária, as pequenas conquistas compartilhadas. Não que o 'reconhecimento pelo bom trabalho' fosse um ponto forte do banco (aliás, longe disso...). Mas se eu conquistasse alguma coisa, implementasse algum projeto, batesse alguma meta, tinha mais gente por perto com que eu podia discutir, detalhar, descrever, me vangloriar (mesmo que não significasse uma promoção, ou um aumento ou nem mesmo um 'parabéns' do diretor...).

Na atual empresa, não tenho pra quem contar vantagem. Pelo estacionamento, não tem quem se interesse. E isso não é doce. Eu também não me interessaria. Quem quer saber se a reunião com o proprietário ou com a administradora nos garantiu mais alguns anos de contrato, se o inquilino ficou satisfeito com algum novo produto, se melhoramos o processo de sinistros com investimentos em CFTV, se automatizamos o envio do movimento do pátio para o escritório a cada 15 minutos? O senso comum prega que estacionamento é commodity. Não merece ser assunto, é 'comum'. E eu não compartilho as pequenas conquistas diárias.
Não conto pra ninguém quem eu tô comendo...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A vida como ela é

A oportunidade de tocar uma empresa de estacionamento me permitiu saber das notícias que estariam em um 'diário popular' diretamente pela boca dos meus supervisores.
Há pouco tempo, um funcionário faltou 4 dias, sem dar satisfação. Na sexta, quando apareceu, fomos perguntar o que tinha acontecido, se estava tudo bem. A resposta foi categórica: "Sabe o que que é... Comi a mulher de um vizinho e o cara tá querendo me matar. Precisei sumir por uns dias"...
Outro manobrista pediu uma antecipação de R$120. Quisemos saber o motivo e a resposta: "Para uma dentadura inteira". Com 120 reais??
Semana retrasada, um outro foi preso. Pensão. A única coisa que prende no país. Uma dívida de 13 vezes o salário bruto...
Hoje, eu poderia ter ido ao enterro da filha de 11 meses de um funcionário, que não resistiu a uma gripe. Triste.
O problema é quando começamos a nos acostumar, quando o coração fica menos tocado por tudo isso... A vida como ela é.
'Tá suave'...?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

15x Federer: "um capítulo vivo da história"

Foi emocionante. O cara é incrível.
Como disse o PJ, o Roddick joga o melhor jogo da vida. Só que é contra o Federer e, portanto, perde.
Faço minhas as palavras do Ronalt em seu blog. Estamos vendo a história acontecer.
Um ano depois, na mesma quadra de sua (talvez) maior decepção, ele dá a volta por cima.
Sou fã do Roger Federer.
Pra finalizar, um vídeo da Nike, com o próprio Sampras homenageando o cara:

Amenizadores

Entendo que o anonimato em um trabalho voluntário o deixa até mais bonito. Aquela coisa de ‘fazer o bem’ só para ‘dizer que está fazendo o bem’ não é legal...
Mas, nesse post, não vou ser tão nobre e vou falar da minha vivência no assunto.
Aprecio muito o voluntariado. Acredito que é uma forma da sociedade civil fazer um pouquinho também. Não deixar tudo por conta do poder público. Nas entrevistas que realizo (em sua maioria, com candidatos a manobristas), quem fez algum tipo de trabalho voluntário já está contratado.
Conceitualmente, prefiro voluntariado ‘construtivo’ ao ‘assistencialista’ (Essas classificações são minhas. Não sei se os centros têm nomenclaturas mais adequadas). Já tinha trabalhado dando aulas de ‘Economias Pessoais’ em uma escola estadual, com o material da Junior Achievement de São Paulo.
Mas, no meio do ano passado, quis me aproximar de realidades mais ‘duras’, (talvez para esquecer as minhas) e pensei em trabalhar em hospitais (pois é, nada construtivo...). Recebi um email do Canto Cidadão – famoso por seus Doutores Cidadãos – e aceitei o desafio. Ainda arrastei minha prima Fê e minha amiga Mari.
Existe uma lei que obriga todo hospital público a ter um espaço para brinquedoteca. Essa ONG resolveu capacitar voluntários, junto com a Secretaria de Saúde, para deixar as salas de brincar por mais tempo abertas. Foram 3 meses de capacitação para atuar como ‘brinquedista’ em hospitais públicos. Depois, por uma questão burocrática, não pudemos mais usar o nome ‘brinquedista’ (só quem se graduou em terapia ocupacional pode!) e passamos a ser os ‘amenizadores’...
Achei os 2 fundadores do Canto meio ‘malas’, mas nossos instrutores Dr Penne Pelicano e Dr Miojo Pena Branca são pessoas especiais. Sou grato por eles terem aparecido em minha vida. Mudei alguns valores.
Enfim, no início desse ano comecei a atuar no Hospital Municipal Artur de Saboya, no Jabaquara. Uma brinquedoteca diferente, toda patrocinada pela Kibon. E, desde então, tenho alguns sábados tensos.
Fico das oito ao meio-dia. É muuuito tempo. Por ter muito brinquedo (o que no fundo é bom), as crianças geralmente não se fixam e ficam pulando de um em um. Quando já rodamos uns 4 ou 5 brinquedos, ainda são 8h45... O setor é grande. Cheguei a ter DEZ crianças ao mesmo tempo na sala. Geralmente pintamos, vemos DVD (‘Monstros SA’ e ‘Tigrão’), brincamos com o carrinho de cachorro-quente, tem boneca e carrinho, passamos pelo ‘Olho de Lince’ e ‘Quebra-Gelo’... Já brinquei com guache (mas me arrependi...)
Parece que é tudo lindo, tudo de bom, mas não é. É um clima tenso, uma energia pesada. Saio carregado. Já vi alguns tipos bem pesados de doenças e curativos. Lógico que para um profissional da área de saúde, tudo isso é frescura. Mas não é o meu caso...
Não espero que o trabalho voluntário seja prazeroso. É preciso que faça o ‘bem’; não necessariamente que ‘me faça bem’. Mas, concordo com o Dr Miojo quando disse, em uma das aulas, que o trabalho voluntário é, em essência, egoísta. Parece que buscamos eliminar os conflitos na nossa consciência, reduzir a tensão, como quem diz para si mesmo: ‘eu fiz minha parte’...
No final do mês, tenho uma oficina de dobraduras no Canto. Será mais um instrumento para ajudar a passar o tempo e de fato amenizar o ambiente. Mas não sei se duro muito. Vou começar a procurar outro egoísmo, mais ameno.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Live together. Die alone.

Quero discorrer sobre a natureza solitária das nossas tristezas, desafios, frustrações. Por mais que tenhamos família e amigos presentes, ‘meu’ problema é só ‘meu’.
“As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros.” – Oscar Wilde.
Se eu tenho uma amiga que está chateada no trabalho, posso ouvir, conversar, dar meu ombro, mas ela vai ter que se virar sozinha. Se tenho um amigo que passa por um grande trauma amoroso, posso estar ao lado o tempo todo, mas ele vai ter que se superar por si só. Não adianta eu sofrer um pouco, para que ele sofra menos... Não é 'transferível'...
Fiz essa introdução para falar do meu avô.
Seu Walter completou 79 anos no último domingo. Tive o prazer de passar o dia ao lado dele. Fumante desde adolescente, meu avô tem sérias dificuldades para respirar. A capacidade pulmonar é ínfima; muito catarro e tosse o tempo todo, parecendo que mais alvéolos estão sendo eliminados. Triste. Sempre muito ativo, há alguns meses está 'condenado' ao sofá e à cama, com rápidas passagens pelo banheiro e pela mesa da cozinha para pouco comer. Nos últimos 2 anos, passou por constantes internações e depende do balão de oxigênio para dormir. Vou parar com a descrição...
Nesses 2 anos, toda vez que íamos visitá-los em Minas (a família do meu pai é de lá), despedíamo-nos com receio de que fosse a última vez. A possibilidade da morte foi ficando cada vez maior, mais presente. Sempre rezei para que ele viva enquanto queira e que queira por muito tempo. Mas ficava triste, óbvio.
Nesse último final de semana, foi um pouco diferente. Senti que meu avô está mais triste, mais solitário. Muito católico, sempre acompanhado da minha avó – mais católica, impossível – percebi que meu avô está sentindo a morte por perto e fica com receio do que vai acontecer de verdade... Tive a sorte de ter pouco contato com mortes, mas tenho a sensação de que não é mais tão comum 'morrer aos poucos'.
Meu avô sempre esteve cercado de muita gente: muitos irmãos, muitos filhos, muitos netos, muitos clientes,... Mas está tendo que enfrentar 'essa fase' sozinho... Lógico: está cercado de cuidados, medicações, carinho. Mas o desafio é só dele.
Como já faz tempo que ele está fraquinho, a imagem do meu avô superativo está ficando cada vez mais turva, mais distante. E é triste. A verdade é que meu avô não vive mais; apenas sobrevive. Fez o que tinha que fazer, cumpriu a missão, combateu o bom combate.
E eu, de minha parte, o 'liberei'. Seu Walter me ensinou sobre dois dos principais pilares da vida: FAMÍLIA e TRABALHO. Foi um exemplo nesses quesitos. E bem sucedido ao transmiti-los às gerações seguintes.
Sei que ele não vai ler este post. Mas logo vai saber não só o que eu escrevo, mas também como penso e ajo. E estará me protegendo.
Vô, obrigado. Fique em paz...