Nessa última semana, em mais uma discussão de política, meu ainda(?) amigo Soneca quis me provocar dizendo que, se a candidatura da Dilma fosse cancelada, a Marina ganharia do Serra. Não me senti atacado, não me ofendi.
Não tenho nenhum problema em ‘perder’ as eleições. Já perdi algumas, já tive que escolher entre Marta e Maluf (afe, meu Deus!), e vou perder outras tantas...
O que me incomoda e altera minha pressão é o modo como as coisas estão acontecendo.
Queria acreditar que é simplesmente uma vitória dos que pensam diferente de mim, num justo jogo de ideias. Mas o que me apavora é a possibilidade, cada vez mais descarada, de segundas intenções... Já volto nesse ponto.
Se os 55% que dizem votar na Dilma estão votando porque concordam com o projeto que ela desenha para o país, eu coloco minha viola na sacola e vou pra casa. É o preço que se paga para viver numa sociedade democrática: a possibilidade de ser minoria e não ter seus anseios atendidos. Mas tendo a acreditar que não é por aí...
Talvez seja uma equação de uma variável só: economia. Essa idéia é defendida pelo meu amigo PJ. Economia boa, situação vence; economia ruim, oposição vence. Posso espernear dizendo que o momento da economia se deve muito pouco a filosofia e a ação do atual governo mas se for só isso, menos mal também.
Volto às segundas intenções. A mistura entre Estado, governo e partido; a sindicalização (mais que aparelhamento) do Estado; o enfraquecimento das instituições; as tentativas sistemáticas de controlar imprensa (a mais recente aqui); a tentação de acabar com a oposição não são atos isolados.
Li uma boa análise do ‘outro lado’ no blog petista ‘Na Pratica a Teoria é Outra’ defendendo a sindicalização do Estado como uma situação natural, apenas com o intuito de colocar pessoas alinhadas com o partido vencedor das eleições. Queria acreditar...
Sigo o presidente do PT, José Eduardo Dutra, no twitter. Tenho convicção de que eles fazem qualquer coisa para ganhar a eleição. É nítida a sensação de que ‘os fins justificam os meios’. Eles estão passando por cima das leis (já são mais de 10 multas eleitorais), fazem pressão na procuradora, menosprezam os juízes, usam a Receita...
De novo, faço a pergunta: é nisso que os 55% estão votando? Pra eles, não interessa os meios, basta apenas que o cartão do Bolsa Família esteja recarregado no inicio do mês que vem? Basta que o Estado fique maior para cada vez mais gente ter emprego estável pro resto da vida, sem se importar em como se paga a conta?
Se é assim, se o povo vota por isso – e pode ser – não tenho do que reclamar...
Podem me chamar de conspiracionista, mas vejo traços totalitários nesse governo. Mas é bom lembrar que democracia é condição para justiça social e não o contrário.
---
Atualização: Depois de escrever esse post, li um bom texto de Demétrio Magnoli, no Estadão, alinhado com o que escrevi aqui.
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Atualização 2: Reinaldo Azevedo também fala sobre a elite 'esclarecida' vs o déspota 'esclarecido' e a ignorância do povo no meio disso tudo. Aqui.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Um meritocrata cristão
Momento reflexão...
Sou um meritocrata convicto; não gosto da idéia de Estado paizão.
Por outro lado, sou católico e, em essência, deveria buscar mais a partilha, menos acúmulo,... E, pelo que se percebe nas pesquisas, o brasileiro também deseja esse paizão.
Por coincidência, li bastante coisa sobre essa ambigüidade recentemente.
Numa matéria do Estadão da semana passada, fala-se sobre a resistência ao PT no interior de São Paulo porque, segundo os entrevistados, há ali a noção de que prosperidade depende mais do indivíduo do que do Estado.
Recebi um email do meu pai nesses dias recontando aquela experiência (provavelmente fictícia) de um professor que aplica o socialismo para uma determinada sala de aula, aplicando a mesma nota média para todos alunos, que acabam reprovados por não terem incentivos a estudar mais.
Por outro lado, o Evangelho da última missa remete à famosa história do filho mais novo que pega a herança do pai rico, gasta no mundo com putas, jogos e bebidas e, quando não consegue nem comer a comida dos porcos, volta à casa do pai que, a contragosto do filho mais velho, recebe-o com as melhores túnicas, sandálias e o novilho mais gordo: uma clara noção de partilha e desprendimento, independentemente de escolhas erradas ou demérito do filho mais novo.
Num livro que acabo de ler, Outlier de Malcolm Gladwell (ídolo overrated do meu amigo Balu), o autor contrasta os provérbios de 2 países:
-“Se Deus não prover, a terra não fornecerá.”, russo, fatalista, jogando a responsabilidade para fora de si.
- “Ninguém que em 360 dias do ano acorde antes do amanhecer deixa de enriquecer a família.”, chinês, individualista, assumindo as rédeas do jogo.
Novamente, o mesmo embate...
Obviamente acabo me questionando se sou um meritocrata porque tive mais oportunidades que a média da população, consegui crescer e agora uso a estratégia de chutar a escada.
Acho que não... Meus avôs cresceram com o trabalho. Meus pais cresceram com o trabalho. Eu venho crescendo com o trabalho.
Em época de eleição, esse dilema fica aflorado. Talvez seja simplista reduzir o jogo político a apenas essa questão, mas acho que é essencial tê-la bem clara na cabeça...
Sou um meritocrata convicto; não gosto da idéia de Estado paizão.
Por outro lado, sou católico e, em essência, deveria buscar mais a partilha, menos acúmulo,... E, pelo que se percebe nas pesquisas, o brasileiro também deseja esse paizão.
Por coincidência, li bastante coisa sobre essa ambigüidade recentemente.
Numa matéria do Estadão da semana passada, fala-se sobre a resistência ao PT no interior de São Paulo porque, segundo os entrevistados, há ali a noção de que prosperidade depende mais do indivíduo do que do Estado.
Recebi um email do meu pai nesses dias recontando aquela experiência (provavelmente fictícia) de um professor que aplica o socialismo para uma determinada sala de aula, aplicando a mesma nota média para todos alunos, que acabam reprovados por não terem incentivos a estudar mais.
Por outro lado, o Evangelho da última missa remete à famosa história do filho mais novo que pega a herança do pai rico, gasta no mundo com putas, jogos e bebidas e, quando não consegue nem comer a comida dos porcos, volta à casa do pai que, a contragosto do filho mais velho, recebe-o com as melhores túnicas, sandálias e o novilho mais gordo: uma clara noção de partilha e desprendimento, independentemente de escolhas erradas ou demérito do filho mais novo.
Num livro que acabo de ler, Outlier de Malcolm Gladwell (ídolo overrated do meu amigo Balu), o autor contrasta os provérbios de 2 países:
-“Se Deus não prover, a terra não fornecerá.”, russo, fatalista, jogando a responsabilidade para fora de si.
- “Ninguém que em 360 dias do ano acorde antes do amanhecer deixa de enriquecer a família.”, chinês, individualista, assumindo as rédeas do jogo.
Novamente, o mesmo embate...
Obviamente acabo me questionando se sou um meritocrata porque tive mais oportunidades que a média da população, consegui crescer e agora uso a estratégia de chutar a escada.
Acho que não... Meus avôs cresceram com o trabalho. Meus pais cresceram com o trabalho. Eu venho crescendo com o trabalho.
Em época de eleição, esse dilema fica aflorado. Talvez seja simplista reduzir o jogo político a apenas essa questão, mas acho que é essencial tê-la bem clara na cabeça...
terça-feira, 14 de setembro de 2010
O controle e o acaso
Tirei essa última semana para mergulhar... Atividade que cansa o corpo e descansa a mente. Gosto muito.
Fiz um dos mais famosos (e bonitos) mergulhos no Brasil: um naufrágio a 60 metros de profundidade. É quase uma operação de 'guerra': sem caipirinha, comidas fortes e pimenta na noite anterior, cama mais cedo, grupo pequeno com 2 instrutores e 2 safety divers, stages com 50% de oxigênio na parada de descompressão,...
Senti minha primeira narcose: uma sensação estranha causada (?) pela pressão do nitrogênio a partir de determinadas profundidades. Comparam a uma sensação de bebedeira, sem dor de cabeça e sem ressaca. Achei a comparação com o gás do riso (usado em dentistas) mais apropriada: 'Is that real life?'...
A sensação é bizarra porque, de fato, parece que perdemos o controle. (Acho que terapeutas iriam à loucura se soubessem o que seus pacientes pensam e sentem nessa hora... hehe)
Toda essa situação 'limítrofe' e tudo correu muito bem, perfeito! Um naufrágio e um mergulho do cacete!!!
Num outro dia, mergulhinho bobo num mar mais mexido, fiquei mareado e deitei num canto do barco. O instrutor (!!!) esqueceu de prender seu cilindro duplo e o equipamento caiu no chão a 2 cm da minha cabeça!! Se eu estivesse deitado 10 cm pro lado, a essa altura, estaria conversando com meus avôs em algum outro lugar...
E ainda tem gente que acha que temos o controle e não somos governados pelo ACASO... hehe
Fiz um dos mais famosos (e bonitos) mergulhos no Brasil: um naufrágio a 60 metros de profundidade. É quase uma operação de 'guerra': sem caipirinha, comidas fortes e pimenta na noite anterior, cama mais cedo, grupo pequeno com 2 instrutores e 2 safety divers, stages com 50% de oxigênio na parada de descompressão,...
Senti minha primeira narcose: uma sensação estranha causada (?) pela pressão do nitrogênio a partir de determinadas profundidades. Comparam a uma sensação de bebedeira, sem dor de cabeça e sem ressaca. Achei a comparação com o gás do riso (usado em dentistas) mais apropriada: 'Is that real life?'...
A sensação é bizarra porque, de fato, parece que perdemos o controle. (Acho que terapeutas iriam à loucura se soubessem o que seus pacientes pensam e sentem nessa hora... hehe)
Toda essa situação 'limítrofe' e tudo correu muito bem, perfeito! Um naufrágio e um mergulho do cacete!!!
Num outro dia, mergulhinho bobo num mar mais mexido, fiquei mareado e deitei num canto do barco. O instrutor (!!!) esqueceu de prender seu cilindro duplo e o equipamento caiu no chão a 2 cm da minha cabeça!! Se eu estivesse deitado 10 cm pro lado, a essa altura, estaria conversando com meus avôs em algum outro lugar...
E ainda tem gente que acha que temos o controle e não somos governados pelo ACASO... hehe
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Complementado: um bom 'case'
Complementando o post abaixo, alguns comentários esquecidos...
Vi a entrevista de um economista, 'responsabilizando' o início do welfare state pela crise atual. Concordo muito. Não é fácil que uma pequena parte da sociedade pague a alegria geral da nação por muito tempo. (No mínimo, é muito caro, traz muita dívida). A grande pergunta chavão: como convencer o velhinho de 65 anos da Alemanha, que ainda trabalha, a pagar a aposentadoria do grego de 55, já aposentado?
O problema é que romper o ciclo atual é doloroso, impopular. Tanto que o Brasil parece navegar na mesma onda, alheio a tudo que acontece na Europa: aumentos acima da inflação para a população inativa, discussão sobre o fim do fator previdenciário,... Questionar o Bolsa-Familia, então, um crime... Sei não...
Apesar de achar interessante, não sou muito adepto dos cases dos MBA's da vida. É como comentarista de lance feito: é fácil saber em 2010 que a decisão da Ford em 1935 foi acertada ou que a da HP em 1990 foi errada... É o viés do retrospecto. (Aliás, veja aqui um ótimo vídeo sobre vieses na tomada de decisão.)
Enfim, o que fazer com a Grécia é o grande case do momento! Como vamos analisá-lo em 2050?
Vi a entrevista de um economista, 'responsabilizando' o início do welfare state pela crise atual. Concordo muito. Não é fácil que uma pequena parte da sociedade pague a alegria geral da nação por muito tempo. (No mínimo, é muito caro, traz muita dívida). A grande pergunta chavão: como convencer o velhinho de 65 anos da Alemanha, que ainda trabalha, a pagar a aposentadoria do grego de 55, já aposentado?
O problema é que romper o ciclo atual é doloroso, impopular. Tanto que o Brasil parece navegar na mesma onda, alheio a tudo que acontece na Europa: aumentos acima da inflação para a população inativa, discussão sobre o fim do fator previdenciário,... Questionar o Bolsa-Familia, então, um crime... Sei não...
Apesar de achar interessante, não sou muito adepto dos cases dos MBA's da vida. É como comentarista de lance feito: é fácil saber em 2010 que a decisão da Ford em 1935 foi acertada ou que a da HP em 1990 foi errada... É o viés do retrospecto. (Aliás, veja aqui um ótimo vídeo sobre vieses na tomada de decisão.)
Enfim, o que fazer com a Grécia é o grande case do momento! Como vamos analisá-lo em 2050?
Uma post aventureiro
Ainda não me sinto muito confortável ao escrever sobre assuntos mais sérios. Mas há algumas semanas, estou com vontade de escrever sobre o desenrolar na crise econômica. (O twitter me tirou as atenções do blog...) Enfim, deixe eu tentar...
Acredito que as pessoas mais sensatas, ainda não dizem que a crise iniciada em 2008 já passou. Um pouco de prudência pode evitar crises de transtornos bipolares, como evidencia o PJ, em seu blog.
Mas o Brasil tem se saído muito bem. Meu grande cuidado nesse contexto foi levantado pelo Pedro Malan, em uma palestra a que assisti há cerca de 1 mês: "Tenho receio de que atribuam o sucesso do Brasil na crise a fatores errados; que justifiquem com os argumentos errados". Concordo 100%.
Em minha humilde opinião, o Brasil não se ferrou tanto por 2 motivos:
1) o polêmico PROER da década de 90 antecipou a regulação bancária, que está sendo feito apenas hoje em dia no resto do mundo. Os bancos brasileiros são muito fortes (talvez por isso, tão caros...)
2) a relação crédito/PIB do Brasil no início da crise era irrisório (~32%) quando comparado com os demais países. Desalavancado (por acaso; e não por projeto ou convicção), o Brasil não sofreu demais com a crise creditícia (="de confiança") mundial.
Indo pro resto do mundo, no livro 'Animal Spirits', George Akerlof e Robert Shiller comentam o nascimento dos bancos centrais. A principal ideia já lá no início não era essa movimentação diária com os demais bancos e sim, ser o provedor de liquidez em eventuais crises. Exatamente o que aconteceu mundialmente. Ou seja, por mais que se critique, os bancos centrais fizeram o que, no nascimento e em essência, deveriam fazer.
Voltando ao Malan, receio que o atual governo petista jogue para si os méritos que não são seus aqui no Brasil e, mundialmente, atribua a melhora da economia a uma maior intervenção do Estado.
A imprensa vermelhinha bombardeou o noticiário decretando o fim do capitalismo: "o Estado salvou o mercado!!", diziam.
Pois bem... Estamos vendo o que acontece na Grécia, em Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, Inglaterra, EUA,... O 'Estado que injetou dinheiro no mercado' está bambeando, dívida/PIB muito maior que 100%... O que os vermelhinhos vão dizer agora?
Pra mim, a única lição que fica por enquanto é aquela que meu pai me ensinou desde pequenininho: gaste só aquilo que você tem. Seja a empresa privada, seja o governo.
Acredito que as pessoas mais sensatas, ainda não dizem que a crise iniciada em 2008 já passou. Um pouco de prudência pode evitar crises de transtornos bipolares, como evidencia o PJ, em seu blog.
Mas o Brasil tem se saído muito bem. Meu grande cuidado nesse contexto foi levantado pelo Pedro Malan, em uma palestra a que assisti há cerca de 1 mês: "Tenho receio de que atribuam o sucesso do Brasil na crise a fatores errados; que justifiquem com os argumentos errados". Concordo 100%.
Em minha humilde opinião, o Brasil não se ferrou tanto por 2 motivos:
1) o polêmico PROER da década de 90 antecipou a regulação bancária, que está sendo feito apenas hoje em dia no resto do mundo. Os bancos brasileiros são muito fortes (talvez por isso, tão caros...)
2) a relação crédito/PIB do Brasil no início da crise era irrisório (~32%) quando comparado com os demais países. Desalavancado (por acaso; e não por projeto ou convicção), o Brasil não sofreu demais com a crise creditícia (="de confiança") mundial.
Indo pro resto do mundo, no livro 'Animal Spirits', George Akerlof e Robert Shiller comentam o nascimento dos bancos centrais. A principal ideia já lá no início não era essa movimentação diária com os demais bancos e sim, ser o provedor de liquidez em eventuais crises. Exatamente o que aconteceu mundialmente. Ou seja, por mais que se critique, os bancos centrais fizeram o que, no nascimento e em essência, deveriam fazer.
Voltando ao Malan, receio que o atual governo petista jogue para si os méritos que não são seus aqui no Brasil e, mundialmente, atribua a melhora da economia a uma maior intervenção do Estado.
A imprensa vermelhinha bombardeou o noticiário decretando o fim do capitalismo: "o Estado salvou o mercado!!", diziam.
Pois bem... Estamos vendo o que acontece na Grécia, em Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, Inglaterra, EUA,... O 'Estado que injetou dinheiro no mercado' está bambeando, dívida/PIB muito maior que 100%... O que os vermelhinhos vão dizer agora?
Pra mim, a única lição que fica por enquanto é aquela que meu pai me ensinou desde pequenininho: gaste só aquilo que você tem. Seja a empresa privada, seja o governo.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Incrédulos e/ou arrogantes
Uma das pessoas mais inteligentes e cultas que conheço é o PJ. Trabalha no mercado e é um dos melhores caras do Brasil naquilo que faz. Há algum tempo, conversando sobre carreira, perguntei sobre mestrados e ele deu de ombros... Acha melhor gastar seu tempo lendo livros que agreguem mais.
Da minha parte, me formei em engenharia, fiz um semestre da graduação em economia e preferi largar para fazer uma pós na área. Desde que concluí essa pós, costumo fazer cursos de educação continuada: aqueles cursos de apenas um semestre, com carga de 40 a 70 horas, temas bem específicos e que não aumentam em nada o grau acadêmico. Leio devagar, mas leio bastante também. E essas leituras também me tornaram mais ácido com a Academia.
Nesse semestre, comecei outro curso de educação continuada. Na primeira aula, um professor começa a explicar todo o processo da atual crise... A oratória e a didática até foram boas, mas nada de novo, um mesmo blablabla... O segundo professor, falando de regulação e defesa da concorrência, só escorregava e saía pela tangente nas perguntas... Na terceira aula, o professor principal e responsável pelo curso gastou mais tempo falando do currículo próprio do que do tema em si. Completamente disperso... Já virei o ponteiro, me juntei ao PJ, sou daqueles que ficaram céticos com a Academia. Não vou bancar um brazuca revoltado só com as escolas nacionais. É fato que os alunos e professores do Brasil não obtêm grandes prêmios acadêmicos mundiais e a produção de papers por aluno no Brasil é ridícula (não vou atrás dos números porque o Balu já deve ter escrito alguma coisa a respeito; se não escreveu, já conversamos e é uma boa dica para um próximo post). Mas não. O quase desrespeito à Academia não é restrito ao país...
E nós mortais não estamos sozinhos. Nosso guru Nassim Taleb é o mais incrédulo. No seu twitter, são recorrentes as ironias à Academia. Uma de suas principais críticas é o fato das Escolas ainda ensinarem Teoria de Carteiras, mesmo com a patetada na última crise. Ele deixa isso claro nessa conversa com Daniel Kahneman. Enfim, a teoria convencional se mostrou fracassada e as Escolas não se propuseram a se atualizar. Como não podemos mudar o que as Escolas ensinam, sua sugestão é que deixemos de frequentá-las... Simples assim.
Abaixo algumas boas frases do Taleb:
'My problem of knowledge is that there are many more books on birds written by ornithologists than books on birds written by birds.'
'Mathematics is to knowledge what an artificial hand is to the real one. Do not amputate to replace.'
'The imagination of the genius vastly surpasses his intellect; the intellect of the academic vastly surpasses his imagination.'
'Academia is to knowledge what prostitution is to love; close enough on the surface but, to the nonsucker, not exactly the same thing.'
'What they call philosophy, I call literature; what they call literature I call journalism; and what they call journalism I call gossip.'
'Academics are only useful when they try to be useless, and dangerous when they try to be useful.'
'The 4 most influential modrns Darwin, Marx, Freud & (early) Einstein were scholars but not academics. Hard to do genuine work with institutions.'
Da minha parte, me formei em engenharia, fiz um semestre da graduação em economia e preferi largar para fazer uma pós na área. Desde que concluí essa pós, costumo fazer cursos de educação continuada: aqueles cursos de apenas um semestre, com carga de 40 a 70 horas, temas bem específicos e que não aumentam em nada o grau acadêmico. Leio devagar, mas leio bastante também. E essas leituras também me tornaram mais ácido com a Academia.
Nesse semestre, comecei outro curso de educação continuada. Na primeira aula, um professor começa a explicar todo o processo da atual crise... A oratória e a didática até foram boas, mas nada de novo, um mesmo blablabla... O segundo professor, falando de regulação e defesa da concorrência, só escorregava e saía pela tangente nas perguntas... Na terceira aula, o professor principal e responsável pelo curso gastou mais tempo falando do currículo próprio do que do tema em si. Completamente disperso... Já virei o ponteiro, me juntei ao PJ, sou daqueles que ficaram céticos com a Academia. Não vou bancar um brazuca revoltado só com as escolas nacionais. É fato que os alunos e professores do Brasil não obtêm grandes prêmios acadêmicos mundiais e a produção de papers por aluno no Brasil é ridícula (não vou atrás dos números porque o Balu já deve ter escrito alguma coisa a respeito; se não escreveu, já conversamos e é uma boa dica para um próximo post). Mas não. O quase desrespeito à Academia não é restrito ao país...
E nós mortais não estamos sozinhos. Nosso guru Nassim Taleb é o mais incrédulo. No seu twitter, são recorrentes as ironias à Academia. Uma de suas principais críticas é o fato das Escolas ainda ensinarem Teoria de Carteiras, mesmo com a patetada na última crise. Ele deixa isso claro nessa conversa com Daniel Kahneman. Enfim, a teoria convencional se mostrou fracassada e as Escolas não se propuseram a se atualizar. Como não podemos mudar o que as Escolas ensinam, sua sugestão é que deixemos de frequentá-las... Simples assim.
Abaixo algumas boas frases do Taleb:
'My problem of knowledge is that there are many more books on birds written by ornithologists than books on birds written by birds.'
'Mathematics is to knowledge what an artificial hand is to the real one. Do not amputate to replace.'
'The imagination of the genius vastly surpasses his intellect; the intellect of the academic vastly surpasses his imagination.'
'Academia is to knowledge what prostitution is to love; close enough on the surface but, to the nonsucker, not exactly the same thing.'
'What they call philosophy, I call literature; what they call literature I call journalism; and what they call journalism I call gossip.'
'Academics are only useful when they try to be useless, and dangerous when they try to be useful.'
'The 4 most influential modrns Darwin, Marx, Freud & (early) Einstein were scholars but not academics. Hard to do genuine work with institutions.'
terça-feira, 16 de março de 2010
Eufemismos
O filho dos outros é triste.
O nosso está deprimido.
O filho dos outros é mal educado.
O nosso é genioso.
O filho dos outros é louco.
O nosso é bipolar. Ou 'moody'.
O filho dos outros é maria-vai-com-as-outras.
O nosso é flexível, adaptativo.
O filho dos outros é burro.
O nosso tem déficit de atenção.
O filho dos outros é um pentelho.
O nosso é hiperativo.
O filho dos outros tem caganeira.
O nosso tem virose.
O filho dos outros teve sorte.
O nosso é uma estrela.
O nosso está deprimido.
O filho dos outros é mal educado.
O nosso é genioso.
O filho dos outros é louco.
O nosso é bipolar. Ou 'moody'.
O filho dos outros é maria-vai-com-as-outras.
O nosso é flexível, adaptativo.
O filho dos outros é burro.
O nosso tem déficit de atenção.
O filho dos outros é um pentelho.
O nosso é hiperativo.
O filho dos outros tem caganeira.
O nosso tem virose.
O filho dos outros teve sorte.
O nosso é uma estrela.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Era uma quinta qualquer...
Quinta-feira passada, uma pessoa muito próxima - extremamente do bem - estava indo para o trabalho, 6h45 da matina, quando atropelou um senhor que atravessava uma via rápida em local proibido. O senhor faleceu no sábado.
Quinta-feira passada, a mãe de uma outra pessoa próxima foi atropelada e também morreu.
Dois lados da moeda e, sinceramente, não sei qual é o mais difícil.
Os fatos, obviamente, mexeram comigo. Duas pessoas 'normais', com a labuta e os problemas do dia-a-dia, mas com uma vida relativamente tranquila, estável, 'sob controle'... Aí, vem a vida e muda tudo... Sob controle?
Era só uma quinta qualquer e as vidas dessas pessoas tomaram outros rumos...
Quinta-feira passada, a mãe de uma outra pessoa próxima foi atropelada e também morreu.
Dois lados da moeda e, sinceramente, não sei qual é o mais difícil.
Os fatos, obviamente, mexeram comigo. Duas pessoas 'normais', com a labuta e os problemas do dia-a-dia, mas com uma vida relativamente tranquila, estável, 'sob controle'... Aí, vem a vida e muda tudo... Sob controle?
Era só uma quinta qualquer e as vidas dessas pessoas tomaram outros rumos...
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Campanha da Fraternidade
Às vezes, tenho receio de falar sobre religião porque temos na cabeça aquele estereótipo de um chato que fica pregando sem ser bem quisto. Acho que não é o caso.
Quero deixar registrado meus 'parabéns' para a Igreja Católica por mais uma Campanha da Fraternidade bem adaptada ao nosso tempo. Depois de defender a vida em 2008 ('Escolhe, pois, a vida'), trazendo à tona e reforçando a posição da Igreja sobre aborto, de discutir a segurança pública em 2009 ('A paz é fruto da justiça'), agora a Igreja convida a refletir sobre a economia ('Você não pode servir a Deus e ao dinheiro').
Talvez o mais interessante nessa minha congratulação é o fato de que, embora muito católico, eu não concorde 100% com a posição da Igreja nesses pontos polêmicos.
Quero dizer:
1) tenho muitas dúvidas quanto ao aborto, tendendo a aceitá-lo, coisa inimaginável para Igreja.
2) sou muito capitalista e meritocrata e a posição da Igreja quando chama a refletir a economia é puxada para esquerda, para uma 'economia mais solidária'.
MAS, independentemente da posição da Igreja, acho louvável que ela chame à reflexão esses temas polêmicos e concretos ao invés de ficar vagando sobre temas antigos e abstratos.
Outro ponto legal desse ano é que Campanha se tornou ecumênica, com a participação de várias igrejas cristãs.
Achei bem legal.
Quero deixar registrado meus 'parabéns' para a Igreja Católica por mais uma Campanha da Fraternidade bem adaptada ao nosso tempo. Depois de defender a vida em 2008 ('Escolhe, pois, a vida'), trazendo à tona e reforçando a posição da Igreja sobre aborto, de discutir a segurança pública em 2009 ('A paz é fruto da justiça'), agora a Igreja convida a refletir sobre a economia ('Você não pode servir a Deus e ao dinheiro').
Talvez o mais interessante nessa minha congratulação é o fato de que, embora muito católico, eu não concorde 100% com a posição da Igreja nesses pontos polêmicos.
Quero dizer:
1) tenho muitas dúvidas quanto ao aborto, tendendo a aceitá-lo, coisa inimaginável para Igreja.
2) sou muito capitalista e meritocrata e a posição da Igreja quando chama a refletir a economia é puxada para esquerda, para uma 'economia mais solidária'.
MAS, independentemente da posição da Igreja, acho louvável que ela chame à reflexão esses temas polêmicos e concretos ao invés de ficar vagando sobre temas antigos e abstratos.
Outro ponto legal desse ano é que Campanha se tornou ecumênica, com a participação de várias igrejas cristãs.
Achei bem legal.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Perguntas e respostas
Quantas vezes você se percebeu dando conselhos para uma pessoa querida, mas que, numa situação análoga, você não fez o que está aconselhando? Quantas vezes você encontra resposta para um problema só depois de ter passado o furacão?
Na verdade, acho que um grande pulo do gato na vida é ter a capacidade de identificar situações reais que você tinha aprendido apenas teoricamente.
Taleb tem experimentos com doutores em estatística que, diante de situações ‘disfarçadas de caso real’, ou seja, sem um enunciado típico de problema da academia, não conseguem encontrar a resposta correta.
Saber a resposta é mais fácil quando você sabe a pergunta e, mais, quando você sabe que a pergunta foi feita agora.
Na verdade, acho que um grande pulo do gato na vida é ter a capacidade de identificar situações reais que você tinha aprendido apenas teoricamente.
Taleb tem experimentos com doutores em estatística que, diante de situações ‘disfarçadas de caso real’, ou seja, sem um enunciado típico de problema da academia, não conseguem encontrar a resposta correta.
Saber a resposta é mais fácil quando você sabe a pergunta e, mais, quando você sabe que a pergunta foi feita agora.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Personagens
Nessas últimas semanas, reencontrei pessoas que não via há alguns anos.
A conversa com essas pessoas confronta o que éramos com o que nos tornamos. Muitas coisas mudaram; algumas continuam iguaiszinhas...
Também repensei minha relação com algumas pessoas que estão ou se tornaram mais próximas...
E quanto mais você conhece uma pessoa – inclusive a si mesmo – mais percebe a diferença do que ela de fato é com o que ela quer se mostrar... E às vezes, nem a pessoa tem consciência...
Somos todos personagens, caricaturas de si mesmos.
O problema aparece quando a personagem fica mais forte que a pessoa. Ou pior, quando se quer mudar a personagem porque ficou batida ou sei lá o quê... Já era. Você virou a personagem.
O menino é o pai do homem.
A conversa com essas pessoas confronta o que éramos com o que nos tornamos. Muitas coisas mudaram; algumas continuam iguaiszinhas...
Também repensei minha relação com algumas pessoas que estão ou se tornaram mais próximas...
E quanto mais você conhece uma pessoa – inclusive a si mesmo – mais percebe a diferença do que ela de fato é com o que ela quer se mostrar... E às vezes, nem a pessoa tem consciência...
Somos todos personagens, caricaturas de si mesmos.
O problema aparece quando a personagem fica mais forte que a pessoa. Ou pior, quando se quer mudar a personagem porque ficou batida ou sei lá o quê... Já era. Você virou a personagem.
O menino é o pai do homem.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
A mesma praça, o mesmo banco...
Gostei muito de um texto do meu amigo Balu, meio irônico sobre a mesmice da virada de ano, relembrando Drummond que classifica como ‘gênio’ o cara que resolveu fatiar o tempo, dar o nome de ‘anos’ e, assim, introduzir a esperança no mundo. Uma única semana, física e cronologicamente igual a todas as outras, mas que nos faz lembrar todos os acertos e erros do ano inteiro.
Talvez por isso, parece que começamos todos mais devagar, meio que com medo de errar, de brigar, de se arrepender... Mas, aí vem o tempo e bastam duas segundas-feiras para colocar tudo no trilho novamente...
Enfim, Carnaval, Copa e Eleições. O ano acabou: hora de refletir de novo.
Feliz 2011!!!
Talvez por isso, parece que começamos todos mais devagar, meio que com medo de errar, de brigar, de se arrepender... Mas, aí vem o tempo e bastam duas segundas-feiras para colocar tudo no trilho novamente...
Enfim, Carnaval, Copa e Eleições. O ano acabou: hora de refletir de novo.
Feliz 2011!!!
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