Momento reflexão...
Sou um meritocrata convicto; não gosto da idéia de Estado paizão.
Por outro lado, sou católico e, em essência, deveria buscar mais a partilha, menos acúmulo,... E, pelo que se percebe nas pesquisas, o brasileiro também deseja esse paizão.
Por coincidência, li bastante coisa sobre essa ambigüidade recentemente.
Numa matéria do Estadão da semana passada, fala-se sobre a resistência ao PT no interior de São Paulo porque, segundo os entrevistados, há ali a noção de que prosperidade depende mais do indivíduo do que do Estado.
Recebi um email do meu pai nesses dias recontando aquela experiência (provavelmente fictícia) de um professor que aplica o socialismo para uma determinada sala de aula, aplicando a mesma nota média para todos alunos, que acabam reprovados por não terem incentivos a estudar mais.
Por outro lado, o Evangelho da última missa remete à famosa história do filho mais novo que pega a herança do pai rico, gasta no mundo com putas, jogos e bebidas e, quando não consegue nem comer a comida dos porcos, volta à casa do pai que, a contragosto do filho mais velho, recebe-o com as melhores túnicas, sandálias e o novilho mais gordo: uma clara noção de partilha e desprendimento, independentemente de escolhas erradas ou demérito do filho mais novo.
Num livro que acabo de ler, Outlier de Malcolm Gladwell (ídolo overrated do meu amigo Balu), o autor contrasta os provérbios de 2 países:
-“Se Deus não prover, a terra não fornecerá.”, russo, fatalista, jogando a responsabilidade para fora de si.
- “Ninguém que em 360 dias do ano acorde antes do amanhecer deixa de enriquecer a família.”, chinês, individualista, assumindo as rédeas do jogo.
Novamente, o mesmo embate...
Obviamente acabo me questionando se sou um meritocrata porque tive mais oportunidades que a média da população, consegui crescer e agora uso a estratégia de chutar a escada.
Acho que não... Meus avôs cresceram com o trabalho. Meus pais cresceram com o trabalho. Eu venho crescendo com o trabalho.
Em época de eleição, esse dilema fica aflorado. Talvez seja simplista reduzir o jogo político a apenas essa questão, mas acho que é essencial tê-la bem clara na cabeça...
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