Em termos de leitura, foi um bom ano pra mim. Li bastante. Aprendi um tanto. Segue minha lista, com link e um mini resumo.
1. Animal Spirits – George Arkelog e Robert Shiller
Na contramão da
corrente majoritária ('o homo economicus é totalmente racional'), os dois
renomados economistas defendem teses comportamentais, já defendidas por Keynes:
a economia é regida por sentimentos de confiança, percepção de justiça, propensão
a comportamentos de má fé ou corrupção, ilusão monetária e histórias que rondam
o imaginário ('causos'). Ok, a economia comportamental já não é tão
'pequena'...
2. Um jogador – Dostoievsky
Com pesar, confesso que ainda não li 'Crime e Castigo', nem 'Irmãos Karamazov', nem 'O Idiota'. Ou seja, foi minha estreia
Trata-se
basicamente de uma 'resposta' - dessa vez 'defendendo o corpo' - a um outro
livro do rabino, 'Alma Imoral', que 'defendia a alma'. Novamente os dilemas
entre desejo e valores, liberdade e segurança, traição e tradição, evolução e
preservação, malícia e hipocrisia. É espetacular. Separei uns trechos aqui.
Mais um ótimo livro de psicologia
econômica, sobre nossos vieses. No caso, especificamente o auto-engano:
nossas ilusões de atenção, de memória (pra mim, o melhor capítulo), de
confiança, de conhecimento, de causa e de potencial. Muito bom!
Meu
3º livro do escritor pop também é bem legalzinho. Ele exagera em alguns pontos
(bastante criticado inclusive no Invisible Gorilla) como por exemplo ao afirmar
relações causais sem o devido cuidado metodológico (tendo grupos de controle,
por exemplo). Mas ok, não deixa de ser interessante. A tese central do livro é
a não-linearidade de eventos sociais (venda de livros, fortuna, crimes no metrô...),
os pontos de ruptura, assunto bem interessante.
A historinha de Antoine que,
desiludido e infeliz com o mundo, tenta se matar algumas vezes, mas nem isso
consegue. Acaba no mercado financeiro. Interessante.
"De tanto pensar, a consciência
sempre tumescente, vivia mal. Ele agora queria ser um pouco inconsciente, bem
ignorante das causas, das verdades, da realidade... Estava cansado da acuidade
de observação que lhe dava uma imagem cínica das relações humanas. Queria
viver; não saber a realidade da vida..."
Um tributo ao acaso,
com um apanhado de textos que passa pela Bíblia, por Epíteto, Homero, Shakespeare,
Rembrandt, Voltaire, Mark Twain, Albert Camus, Sartre, Borges...
Destaco o 1º parágrafo desse texto de
Epíteto.
Difícil de ler, até pelo inglês erudito, mas interessante.
8. Justiça – Michael Sandel
Difícil de ler, até pelo inglês erudito, mas interessante.
8. Justiça – Michael Sandel
O livro sobre o baladado curso,
disponibilizado online, de Harvard. O professor-autor-filósofo é muito bom. Faz
um resumão, confrontando as noções de moral e justiça ('o que é o certo? o que
deve ser feito?') nas visões de Kant, Bentham e os
utilitaristas, a teoria do véu da ignorância de Rawls e Aristóteles. A
argumentação é tão boa que eu sempre ficava com a sensação de que o autor era 'signatário'
do pensamento em
questão. Talvez tenha faltado justamente isso: uma oposição a
cada um desses pensadores.
Mas essa crítica ao autor também é interessante. Livro top.
Mas essa crítica ao autor também é interessante. Livro top.
Segundo o próprio autor, principal nome do
niilismo, o livro se propõe a ser um resumão de sua obra. Nietzche refuta a
exaltação dos ‘fracos’ (a moral da décadence)
e não se conforma que ninguém perceba isso. Volta às ideias de ‘transmutação
dos valores’, ou seja, trocar ‘tudo isso que está aí’, sempre apresentando seu Zaratrusta
como o super-homem. Os títulos dos capítulos são impagáveis! (Por que sou tão
sábio; Por que escrevo tão bons livros; Por que sou um destino...)
É muito bom. A vida só é possível ‘apesar de’.
É muito bom. A vida só é possível ‘apesar de’.
O autor é conhecido pelos seus bons livros
sobre a arte da psicoterapia. Nesse, ele vai fazendo um paralelo entre o
trabalho cotidiano de um terapeuta com câncer e a vida e obra de Arthur Schopenhauer.
Uma ótima introdução a uma das principais influências para o pensamento de Nietzche
e de Freud. Gostei muito.
Resenhei aqui. Três intelectuais justificam
suas preferências pelas ideias conservadoras.
Gostei bastante do texto de João Pereira Coutinho e, sabendo ponderar, costumo gostar bastante do Ponde. Acho que o Rosenfield não foi bem. A introdução, de Marcelo Consentino, é também muito boa.
Até pela grande quantidade de citações e bibliografia, trata-se de uma excelente referência para quem quiser estudar (entender, criticar, sei lá) as ideais direitistas.
Gostei bastante do texto de João Pereira Coutinho e, sabendo ponderar, costumo gostar bastante do Ponde. Acho que o Rosenfield não foi bem. A introdução, de Marcelo Consentino, é também muito boa.
Até pela grande quantidade de citações e bibliografia, trata-se de uma excelente referência para quem quiser estudar (entender, criticar, sei lá) as ideais direitistas.
Sem dúvida meu livro mais difícil do ano. A
escrita de um dos primeiros pensadores existencialistas, raríssimo caso que se
manteve cristão, não é nem um pouco fácil. Com a história de Abraão como pano
de fundo, o autor discorre sobre sua noção de fé. Tentei resenhar aqui.
13.O estrangeiro – Albert Camus
13.O estrangeiro – Albert Camus
O autor foi amigo de Sartre até romperem por
questões políticas do pós-guerra. O texto de Camus é considerado misantropo, ou
seja, com uma eterna desconfiança na humanidade. A
principal fala do protagonista do enredo em questão, recém órfão e preso por um
crime bobo, é ‘Tanto faz...’.
Espetacular livro que conta a história dos
estacionamentos, desde a transição de carroças para carros, das ruas para ‘estalagens’.
Sobretudo, tenta inserir a questão do estacionamento (que chega a ocupar 30%~40%
da área urbana) como um fator mais importante na definição da ‘cidade que
queremos’, do ponto de vista funcional e, principalmente, arquitetônico. A
passagem sobre os usos alternativos da área de estacionamentos (em horários de
subutilização) – como quadras, teatros, feiras, brechós, templos – é muito
interessante.
Uma ode à cidade. O renomado economista
defende os centros urbanos, principalmente pela sinergia e troca de ideias que
geram inovações e evolução. Cada capítulo trata de um assunto, via de regra
usando uma cidade como exemplo (ou contra exemplo). Dá uma bela cutucada nos
ambientalistas, defendendo as cidades verticais ao invés de expansões
territoriais. O argumento é: ‘Cada estudo só avalia o impacto do projeto se ele
for aprovado, e não o impacto de ele ser negado e a construção começar em outro
lugar’.
Dei uma pincelada sobre um dos assuntos aqui.
O livro já é considerado pré-requisito para se estudar urbanismo. Muito bom.
Dei uma pincelada sobre um dos assuntos aqui.
O livro já é considerado pré-requisito para se estudar urbanismo. Muito bom.
Concordo: é fácil não gostar do Pondé. Se
esse for seu caso, nem chegue perto do livro. Na minha opinião, o cara peca
pelo exagero, por ser agressivo ou arrogante demais; mas a mensagem geralmente
é muito boa. De filosofia mesmo, tem muito pouco. Nesse livro, que ele mesmo chama
se ‘ensaio de ironia’, Pondé bate em quase tudo: preconceitos, opinião pública,
felicidade, mulheres, universidades, religião, música,... O politicamente
correto é a origem da maioria dos males do nosso tempo.
Gostei bastante do livro (talvez porque concorde com quase tudo).
Gostei bastante do livro (talvez porque concorde com quase tudo).