segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Por que virei à direita

Li ‘Por que virei à direita – Três intelectuais explicam sua opção pelo conservadorismo’. Os intelectuais são João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Ponde e Denis Rosenfield.

A introdução, de Marcelo Consentino, já é bem agradável. Ele escancara a régua assimétrica: absoluta intolerância ao nazismo (ainda bem!) sem a equivalente repugnância ao totalitarismo esquerdista. Diz que, embora lamentável pela repressão policial, torturas, prisões, etc, a ditadura brasileira nunca tentou impor uma doutrinação ideológica, comum nas ditaduras esquerdistas; tanto que universidades, imprensa e partidos estiveram dominados pelo pensamento esquerdista, mesmo no período militar.

A melhor contribuição de Consentino, no entanto, foi a interessante categorização dos pensamentos direitista e esquerdista. Diante da evidente distância entre os mundos real e ideal, a estratégia do esquerdista é tentar misturá-los. Para o direitista, a vida será melhor se entendermos, aceitarmos e termos bem clara a separação desses mundos.

A tônica dos textos é nesse sentido: o homem é imperfeito e sempre será. Ignorar essa verdade, buscar a utopia, a criação do Paraíso na Terra é um gigantesco engano (até porque o Paraíso será diferente para cada homem). A busca pela utopia é uma chantagem e, portanto, suja: onde já se viu não buscar o mundo perfeito?; 'consola a alma e os outros'. (E, depois, procuram-se os culpados pelo óbvio insucesso...)

O erro da esquerda é justamente ignorar a falibilidade inata do ser humano, ignorar que ‘somos condenados ao naufrágio’.  Para o direitista, basta aos homens não transformar nosso mundo real num Inferno.

Não é função do Estado se colocar como agente moralizador. Quem governa deve suspeitar das suas próprias idéias de mundo. O governo é apenas necessário; não é uma entidade naturalmente benigna, com a função de levar a comunidade à perfeição, justamente porque os homens são incapazes para tanto e porque o Estado não sabe o que é melhor para cada cidadão.

Os autores também trazem o clássico embate entre liberdade e igualdade. Ampliando liberdade, ampliamos a criatividade e escancaramos as diferenças, distanciando-se da pretendida igualdade. Ao contrário, ampliando igualdade, ampliamos a mediocridade. A solução para o direitista é, de novo, aceitar que os homens são diferentes.

Vivemos sob um pano de fundo randômico e, daí, a necessidade de seguir hábitos que nos trouxeram até aqui. É preciso ser cético, desconfiado em relação à razão: nenhum homem ou grupo de homens deve se colocar como capaz nem tem a primazia de resolver os problemas do mundo. Temos que ser cuidadosos com a crença excessiva em si mesmo 'porque o si mesmo não é fundamento de si mesmo, assim como ninguém escapa do abismo puxando a si mesmo pelo cabelo'. Precisamos respeitar a ‘sabedoria dos mortos’.

Gostei bastante.

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