domingo, 12 de fevereiro de 2017

Cartas a meu filho

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Filhos, já disse outras vezes: o crescimento do amor com o nascimento de vocês foi uma coisa mágica, gigantesca, mas veio acompanhado por um medo muito forte. O medo d’eu morrer. O medo de um de vocês morrer. O medo da mamãe morrer.

Um amigo do papai está com um desafio maior pra encarar esse medo. Um câncer pesado. Ele - como eu - tem 2 filhinhas - como vocês. A associação é óbvia. Não digo que a dor dele é a minha dor, porque simplesmente não é: ele é quem sente as dores e os enjoos do tratamento, não eu. Não posso dizer que sei o que ele sente. (A mamãe falou sobre isso outro dia: a diferença entre empatia e identificação). No entanto, o medo dele é o meu medo. O medo dele é a materialização do meu medo. Nesse ponto específico, estamos juntos.

Desde que ficamos sabendo dessa doença, filhos, muitas ideias relacionadas ao assunto me chegaram. Algumas por querer, outras nem tanto. Claro que meus olhos e meu coração estavam mais atentos pra essas mensagens. Li sobre métodos novos pra atacar as células ruins, por exemplo. Na missa passada, no Evangelho do Sermão da Montanha, aprendi que aquelas promessas de felicidade celestes são um convite para nossa esperança aqui nessa vida. Quem tem esperança já começou a ser um pouco feliz. E, essa semana, num livro que me apareceu, li essa pérola:
"Cavamos abismos quando já os temos dentro de nós. E eles surgem da nossa desesperança. É a desesperança que cava abismos. E o homem desesperado, quando não mais espera o que esperava, precisa encontrar o que não tem.  E o desespero, que está virtualizado no crente fiel, atualiza-se no homem que duvida. Cavam abismos os que duvidam."

Filhos, a esperança não é racional, é uma virtude. O mundo vai dar motivos, mas nunca percam a esperança.

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