O livro é a
compilação de um tradicional curso da Casa do Saber. Em linguagem
ultracoloquial, os autores refletem sobre 8 temas: ética, moral, identidade, liberdade, poder, dominação, justiça e virtude.
O conceito exposto
de que mais gostei é o de 'moral' como necessidade prática para se viver em
sociedade a partir do momento em que não amamos todo mundo. (Se amássemos
todos, a moral não seria necessária).
O grande amigo de
Montaigne, Étienne de La Boétie
escreve um curto manifesto refletindo sobre como tiranos mantém sua tirania
(mesmo os escolhidos pelo povo; talvez até piores) e como as pessoas se
sujeitam a essa tirania: boas doses de conivência, covardia e cumplicidade são
necessárias para manter a própria servidão...
Escrito
há quase 500 anos e muito atual.
Mário Ferreira dos
Santos analisa a sociedade "atual" (aspas porque foi escrito em 1967)
sob influência dos "bárbaros" (como contraposição a civilizados,
intelectualizados). Mais: não mais uma invasão "horizontal"
(=conquista territorial), mas uma invasão "vertical", interna, dentro
da própria cultura. Alguns tópicos bem interessantes como moral, crimes, Cristianismo, ciência e religião, 'alta cultura', racismo... O filósofo usa
termos e defende posições que provavelmente causariam mimimi se fossem escritos
hoje em dia. Mas
gostei bastante do texto. Sua capacidade preditiva é impressionante.
Conflito de Visões ✰✰✰✰✰
Segundo Thomas
Sowell, as disputas ideológicas não são baseadas em diferenças de interesse, de
conhecimento ou de moral; o cerne é a diferença de 'visão', definida como uma
'concepção pré-analítica'.
Ele classifica as
visões em: - IRRESTRITA, que entende que o POTENCIAL humano é ilimitado ou que
ainda não foi alcançado (e, portanto, devemos buscá-lo) e; - RESTRITA, que
entende que a CONDIÇÃO humana é limitada, falha (e, portanto, devemos lidar com
isso).
Os adeptos da
visão irrestrita buscam SOLUÇÕES; os da visão restrita buscam
COMPENSAÇÕES/TRADE-OFFs.
A partir dessa
diferenciação (obviamente um continuum, não binária), há toda uma coerência no
posicionamento de ambas as visões quando discutem igualdade, liberdade,
justiça, poder...
Com certeza, um livro que será dos mais influentes na minha vida.
Subliminar ✰✰✰
Leonard Mlodinow,
autor de O Andar do Bêbado, escreve mais um bom livro, dessa fez sobre a
influência do inconsciente em nossas vidas. Com uma pequena pincelada em
neurociência (especialmente em relação ao mapeamento da atividade cerebral),
ele aponta alguns estudos sobre memória, visão, audição, categorização,
racionalização,... Gostei especialmente do capítulo sobre in-groups e out-groups:
as diferenciações inconscientes que fazemos entre as pessoas que são do nosso
grupo e as que não são, QUALQUER que seja a definição desse grupo (e disso podemos tirar algumas ideias para questões de preconceito).
É um bem bolado de
Dan Ariely, Malcolm Gladwell e da turma do Gorila Invisível.
"A evolução
NÃO projetou o cérebro humano para entender a si mesmo com precisão, mas para [simplesmente] nos ajudar a sobreviver".
Nate Silver, o
estatístico que ficou (mais) famoso por gabaritar o vencedor das eleições
americanas em cada um dos 50 estados, fez um abrangente e agradabilíssimo
apanhado sobre os vários mundos da previsão, cada qual com suas
particularidades, seus desafios, seus acertos, seus erros, seus pop-stars.
Os capítulos
passam por eleições, beisebol, basquete, meteorologia, xadrez, poker, macroeconomia,
mercado econômico, epidemias, terremotos, aquecimento global, terrorismo.
Apesar de ser uma
leitura fácil, não técnica, Nate Silver expõe alguns conceitos teóricos
interessantes.
Ou seja, um livro
excelente pra uma época em que querem prever a temperatura da Terra daqui a 100
anos ou em que a variação de 0,1 p.p. na previsão do PIB pro ano que vem dá
manchete de jornal.
Ideias tem Consequências ✰✰✰✰
Muitos consideram
esse livro como um ~must-read~ para direitistas. De fato, Richard Weaver
defende muitos pilares do conservadorismo, mas achei um ou outro ponto
divergente, como quando ele flerta com uma economia mais planejada ou quando dá
umas pequenas porradas no “capitalismo financeiro”.
Achei a leitura
difícil, mas gostei bastante. É um excelente mix de “Invasão vertical dos bárbaros”,
“Rebelião das massas”, “Conflito de visões”, “As vantagens do pessimismo”.
O autor critica o
materialismo e a imediatez vigentes, não no mesmo barco do ambientalismo ou da
crítica ao consumismo, mas pela falta de algo transcendental, metafísico.
CRITICA a paixão
pela razão, a fragmentação do
conhecimento, a substituição da noção de fraternidade pela de
igualdade, o fato da organização social deixar de se pautar pelas vocações e passar a ser pela capacidade de consumo (com o trabalho virando mero emprego sem significado ou valor); critica a ideia de conforto como fim último da vida, a psicologia da criança mimada (que acha que tem direito a tudo por “reclamações e exigências” sem ter aprendido a relação entre esforço e recompensa), que a política tenha sido transformada em uma mera serva da economia; enfim, critica “a teoria progressista da história, que ensina que o ponto mais avançado no tempo representa o ponto de maior desenvolvimento".
O autor DEFENDE a distinção e hierarquia
(selecionei trechos desse espetacular capítulo aqui), a propriedade privada (ligada à escolha e à vontade, ou seja, intrinsecamente à liberdade) como o “último direito
metafísico” (pois não depende de demonstração da utilidade social), a tolerância e a piedade (à natureza, aos outros e ao passado), a prudência e a responsabilidade.
Sensacional.
O livro é um
“testemunho da credulidade, estupidez e crueldade humana”; ilustra uma série de
besteiras que fizemos e acreditamos ao longo da história. (Consequentemente,
claro, faz pensar nas idiotices que vamos deixar pros nossos filhos contarem).
O autor conta
histórias de bodes expiatórios na religião (em especial, no Judaísmo e no Cristianismo,
em que bate bastante), no esporte (técnicos, juízes), relacionados a
gênero/sexo (como na ‘misoginia’ – segundo o autor – da caça às bruxas), na
mitologia, com animais e objetos (as histórias de Cortes gastando tempo e
dinheiro para ‘condenar’ porcos, pássaros, insetos, sinos e espadas são cômicas
se não fossem trágicas), políticos (comunistas como ato final de lealdade,
inimigos externos), financeiras (bolhas, lei do ‘tolo maior’), médicas (os
próprios doentes, eventualmente a 1ª vítima).
Termina falando do
caso emblemático de Alfred Dreyfus, das ideias por trás das teorias da
conspiração e da psicologia do bode expiatório, especialmente com Jung
(“arquétipo da sombra”). Achei interessante a analogia do bode expiatório com
um herói (se ferram individualmente pelo bem do todo).
Alguns capítulos
são muito longos, outros muito curtos, o autor sempre volta na questão do
Cristianismo, mas é um livro interessante.
Michael Lewis, o
autor de renomados livros como Moneyball e Big Short, publica uma espécie de
diário sobre sua experiência como pai de 3 filhos, motivado pelo
"persistente e incômodo gap entre o que ele DEVERIA SENTIR e o que ele
REALMENTE SENTIA" como pai.
Com causos
realmente engraçados, ele escancara a função secundária do pai e ironiza os
experts em
paternidade. Se você não estiver encanado, perturbado ou
confuso com a paternidade, você provavelmente estará fazendo algo errado com
seus filhos. Na verdade, você provavelmente estará fazendo algo errado de todo
modo, mas tudo bem.
Embora curto, não
considerei o livro tão raso como algumas resenhas apontam (talvez seja apenas
minha ignorância) principalmente porque João Pereira Coutinho versa sobre
alguns "tendões de Aquiles" do conservadorismo e algumas diferenças
entre os próprios conservadores. Ou seja, não se trata de um simples
contraponto ao pensamento esquerdista ou às ideologias extremistas.
Entre esses
"tendões", o autor fala sobre o eventual imobilismo (achei excelente
o capítulo sobre "reformas prudentes") e o eventual conflito com
"sociedade comercial" (não sabia que daria pra montar um longo manual
anti-capitalista apenas com autores, em tese, conservadores).
Com relação às
possíveis discordâncias entre os conservadores, a única que me saltou aos olhos
(isto é, que inicialmente me faria discordar de Coutinho) é quanto à
"maleabilidade na hierarquização de valores de acordo com as
circunstâncias", que ele defende. No entanto, é engraçado que, ao ler outros conservadores, a ideia faz muito sentido e fica bem clara.
O livro é muito
bom.
"Todos somos conservadores. Pelo menos, em relação ao que
estimamos. (...) Conservar e desfrutar são dois verbos caros aos homens que
ainda estimam alguma coisa."
É sempre uma
experiência interessante ler alguém que sabidamente pensa diferente de mim. O
historiador comunista Eric Hobsbawm evidencia seu saudosismo pela União
Soviética e sua inhaca pelos Estados Unidos, principalmente nas partes em que
fala sobre ‘impérios’. Gostei bastante dos textos sobre terrorismo – em que ele
crítica o medo irracional, talvez mais prejudicial que o próprio terror – e
sobre democracia – em que ele questiona a ‘unanimidade não questionada’ sobre o
tema. Mostra as fragilidades e exemplos que deram errado em ambientes democráticos
e outros que deram certo sem ele. (O problema, claro, é que ele dá um passinho
além e fica no limite de defender "algo pior" que a democracia...)
O Reacionário ✰✰✰✰
O Reacionário ✰✰✰✰
Complacência ✰✰✰✰
Fabio Giambiagi
e Alexandre Schwartsman analisam as decisões do governo brasileiro na
última década, levando à triste situação atual.
Com uma escrita
bastante leve, passa por diversos temas como funcionalismo público, educação,
previdência, balança comercial, política industrial (de “escolha dos vencedores”),
sempre com uma espécie de “curso de introdução à economia” como pano de fundo.
Bem interessante.
Russel Kirk escreve sua bíblia sobre o pensamento conservador americano. Expõe seus 10 livros, seus 10 acontecimentos e seus 10 pensadores preferidos, explica a maioria deles, critica a ideologia progressista e os libertários. Defende a ordem, a justiça e a liberdade.
Livro necessário para todo conservador e outro que, sem dúvida, terá influência marcante em toda minha vida.
Conversa no Catedral ✰✰✰✰✰
Conversa no Catedral ✰✰✰✰✰
Mario Vargas Llosa trata esse livro como sua melhor obra. E, de fato, é espetacular. Tanto o enredo (as histórias se passam na sociedade peruana na época da ditadura) como o estilo.
Muita coisa parecida com a sociedade brasileira e com os tempos modernos.
O Peru também não corre o risco de dar certo.
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