Nessa última semana, em mais uma discussão de política, meu ainda(?) amigo Soneca quis me provocar dizendo que, se a candidatura da Dilma fosse cancelada, a Marina ganharia do Serra. Não me senti atacado, não me ofendi.
Não tenho nenhum problema em ‘perder’ as eleições. Já perdi algumas, já tive que escolher entre Marta e Maluf (afe, meu Deus!), e vou perder outras tantas...
O que me incomoda e altera minha pressão é o modo como as coisas estão acontecendo.
Queria acreditar que é simplesmente uma vitória dos que pensam diferente de mim, num justo jogo de ideias. Mas o que me apavora é a possibilidade, cada vez mais descarada, de segundas intenções... Já volto nesse ponto.
Se os 55% que dizem votar na Dilma estão votando porque concordam com o projeto que ela desenha para o país, eu coloco minha viola na sacola e vou pra casa. É o preço que se paga para viver numa sociedade democrática: a possibilidade de ser minoria e não ter seus anseios atendidos. Mas tendo a acreditar que não é por aí...
Talvez seja uma equação de uma variável só: economia. Essa idéia é defendida pelo meu amigo PJ. Economia boa, situação vence; economia ruim, oposição vence. Posso espernear dizendo que o momento da economia se deve muito pouco a filosofia e a ação do atual governo mas se for só isso, menos mal também.
Volto às segundas intenções. A mistura entre Estado, governo e partido; a sindicalização (mais que aparelhamento) do Estado; o enfraquecimento das instituições; as tentativas sistemáticas de controlar imprensa (a mais recente aqui); a tentação de acabar com a oposição não são atos isolados.
Li uma boa análise do ‘outro lado’ no blog petista ‘Na Pratica a Teoria é Outra’ defendendo a sindicalização do Estado como uma situação natural, apenas com o intuito de colocar pessoas alinhadas com o partido vencedor das eleições. Queria acreditar...
Sigo o presidente do PT, José Eduardo Dutra, no twitter. Tenho convicção de que eles fazem qualquer coisa para ganhar a eleição. É nítida a sensação de que ‘os fins justificam os meios’. Eles estão passando por cima das leis (já são mais de 10 multas eleitorais), fazem pressão na procuradora, menosprezam os juízes, usam a Receita...
De novo, faço a pergunta: é nisso que os 55% estão votando? Pra eles, não interessa os meios, basta apenas que o cartão do Bolsa Família esteja recarregado no inicio do mês que vem? Basta que o Estado fique maior para cada vez mais gente ter emprego estável pro resto da vida, sem se importar em como se paga a conta?
Se é assim, se o povo vota por isso – e pode ser – não tenho do que reclamar...
Podem me chamar de conspiracionista, mas vejo traços totalitários nesse governo. Mas é bom lembrar que democracia é condição para justiça social e não o contrário.
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Atualização: Depois de escrever esse post, li um bom texto de Demétrio Magnoli, no Estadão, alinhado com o que escrevi aqui.
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Atualização 2: Reinaldo Azevedo também fala sobre a elite 'esclarecida' vs o déspota 'esclarecido' e a ignorância do povo no meio disso tudo. Aqui.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Um meritocrata cristão
Momento reflexão...
Sou um meritocrata convicto; não gosto da idéia de Estado paizão.
Por outro lado, sou católico e, em essência, deveria buscar mais a partilha, menos acúmulo,... E, pelo que se percebe nas pesquisas, o brasileiro também deseja esse paizão.
Por coincidência, li bastante coisa sobre essa ambigüidade recentemente.
Numa matéria do Estadão da semana passada, fala-se sobre a resistência ao PT no interior de São Paulo porque, segundo os entrevistados, há ali a noção de que prosperidade depende mais do indivíduo do que do Estado.
Recebi um email do meu pai nesses dias recontando aquela experiência (provavelmente fictícia) de um professor que aplica o socialismo para uma determinada sala de aula, aplicando a mesma nota média para todos alunos, que acabam reprovados por não terem incentivos a estudar mais.
Por outro lado, o Evangelho da última missa remete à famosa história do filho mais novo que pega a herança do pai rico, gasta no mundo com putas, jogos e bebidas e, quando não consegue nem comer a comida dos porcos, volta à casa do pai que, a contragosto do filho mais velho, recebe-o com as melhores túnicas, sandálias e o novilho mais gordo: uma clara noção de partilha e desprendimento, independentemente de escolhas erradas ou demérito do filho mais novo.
Num livro que acabo de ler, Outlier de Malcolm Gladwell (ídolo overrated do meu amigo Balu), o autor contrasta os provérbios de 2 países:
-“Se Deus não prover, a terra não fornecerá.”, russo, fatalista, jogando a responsabilidade para fora de si.
- “Ninguém que em 360 dias do ano acorde antes do amanhecer deixa de enriquecer a família.”, chinês, individualista, assumindo as rédeas do jogo.
Novamente, o mesmo embate...
Obviamente acabo me questionando se sou um meritocrata porque tive mais oportunidades que a média da população, consegui crescer e agora uso a estratégia de chutar a escada.
Acho que não... Meus avôs cresceram com o trabalho. Meus pais cresceram com o trabalho. Eu venho crescendo com o trabalho.
Em época de eleição, esse dilema fica aflorado. Talvez seja simplista reduzir o jogo político a apenas essa questão, mas acho que é essencial tê-la bem clara na cabeça...
Sou um meritocrata convicto; não gosto da idéia de Estado paizão.
Por outro lado, sou católico e, em essência, deveria buscar mais a partilha, menos acúmulo,... E, pelo que se percebe nas pesquisas, o brasileiro também deseja esse paizão.
Por coincidência, li bastante coisa sobre essa ambigüidade recentemente.
Numa matéria do Estadão da semana passada, fala-se sobre a resistência ao PT no interior de São Paulo porque, segundo os entrevistados, há ali a noção de que prosperidade depende mais do indivíduo do que do Estado.
Recebi um email do meu pai nesses dias recontando aquela experiência (provavelmente fictícia) de um professor que aplica o socialismo para uma determinada sala de aula, aplicando a mesma nota média para todos alunos, que acabam reprovados por não terem incentivos a estudar mais.
Por outro lado, o Evangelho da última missa remete à famosa história do filho mais novo que pega a herança do pai rico, gasta no mundo com putas, jogos e bebidas e, quando não consegue nem comer a comida dos porcos, volta à casa do pai que, a contragosto do filho mais velho, recebe-o com as melhores túnicas, sandálias e o novilho mais gordo: uma clara noção de partilha e desprendimento, independentemente de escolhas erradas ou demérito do filho mais novo.
Num livro que acabo de ler, Outlier de Malcolm Gladwell (ídolo overrated do meu amigo Balu), o autor contrasta os provérbios de 2 países:
-“Se Deus não prover, a terra não fornecerá.”, russo, fatalista, jogando a responsabilidade para fora de si.
- “Ninguém que em 360 dias do ano acorde antes do amanhecer deixa de enriquecer a família.”, chinês, individualista, assumindo as rédeas do jogo.
Novamente, o mesmo embate...
Obviamente acabo me questionando se sou um meritocrata porque tive mais oportunidades que a média da população, consegui crescer e agora uso a estratégia de chutar a escada.
Acho que não... Meus avôs cresceram com o trabalho. Meus pais cresceram com o trabalho. Eu venho crescendo com o trabalho.
Em época de eleição, esse dilema fica aflorado. Talvez seja simplista reduzir o jogo político a apenas essa questão, mas acho que é essencial tê-la bem clara na cabeça...
terça-feira, 14 de setembro de 2010
O controle e o acaso
Tirei essa última semana para mergulhar... Atividade que cansa o corpo e descansa a mente. Gosto muito.
Fiz um dos mais famosos (e bonitos) mergulhos no Brasil: um naufrágio a 60 metros de profundidade. É quase uma operação de 'guerra': sem caipirinha, comidas fortes e pimenta na noite anterior, cama mais cedo, grupo pequeno com 2 instrutores e 2 safety divers, stages com 50% de oxigênio na parada de descompressão,...
Senti minha primeira narcose: uma sensação estranha causada (?) pela pressão do nitrogênio a partir de determinadas profundidades. Comparam a uma sensação de bebedeira, sem dor de cabeça e sem ressaca. Achei a comparação com o gás do riso (usado em dentistas) mais apropriada: 'Is that real life?'...
A sensação é bizarra porque, de fato, parece que perdemos o controle. (Acho que terapeutas iriam à loucura se soubessem o que seus pacientes pensam e sentem nessa hora... hehe)
Toda essa situação 'limítrofe' e tudo correu muito bem, perfeito! Um naufrágio e um mergulho do cacete!!!
Num outro dia, mergulhinho bobo num mar mais mexido, fiquei mareado e deitei num canto do barco. O instrutor (!!!) esqueceu de prender seu cilindro duplo e o equipamento caiu no chão a 2 cm da minha cabeça!! Se eu estivesse deitado 10 cm pro lado, a essa altura, estaria conversando com meus avôs em algum outro lugar...
E ainda tem gente que acha que temos o controle e não somos governados pelo ACASO... hehe
Fiz um dos mais famosos (e bonitos) mergulhos no Brasil: um naufrágio a 60 metros de profundidade. É quase uma operação de 'guerra': sem caipirinha, comidas fortes e pimenta na noite anterior, cama mais cedo, grupo pequeno com 2 instrutores e 2 safety divers, stages com 50% de oxigênio na parada de descompressão,...
Senti minha primeira narcose: uma sensação estranha causada (?) pela pressão do nitrogênio a partir de determinadas profundidades. Comparam a uma sensação de bebedeira, sem dor de cabeça e sem ressaca. Achei a comparação com o gás do riso (usado em dentistas) mais apropriada: 'Is that real life?'...
A sensação é bizarra porque, de fato, parece que perdemos o controle. (Acho que terapeutas iriam à loucura se soubessem o que seus pacientes pensam e sentem nessa hora... hehe)
Toda essa situação 'limítrofe' e tudo correu muito bem, perfeito! Um naufrágio e um mergulho do cacete!!!
Num outro dia, mergulhinho bobo num mar mais mexido, fiquei mareado e deitei num canto do barco. O instrutor (!!!) esqueceu de prender seu cilindro duplo e o equipamento caiu no chão a 2 cm da minha cabeça!! Se eu estivesse deitado 10 cm pro lado, a essa altura, estaria conversando com meus avôs em algum outro lugar...
E ainda tem gente que acha que temos o controle e não somos governados pelo ACASO... hehe
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