Há algum tempo (décadas?), a palavra ‘moralismo’ passou a ter uma conotação negativa. Essa interpretação
faz parte da Guerra pela Linguagem, que, por exemplo, George Orwell tanto fala
em 1984, e da Hegemonia Cultural, que Antonio Gramsci pregava. Passou a
significar cagação de regra, algo antiquado, obsoleto. E, claro, não é isso.
Existem definições formais elegantes (conjunto de normas
aceitas, conjunto de costumes,...), mas o ponto fundamental é que a moral é o
elo, é a liga que deixa uma sociedade coesa. Não existe sociedade pacificada em
que não haja uma base moral bem aceita e respeitada. É uma coisa construída ao
longo do tempo e, justamente por isso, não é algo que ‘se impõe’. Mas, claro, a
força de um movimento contrário, de uma ‘contra-base’ moral (que – notem – não
é amoral, mas, sim, possui OUTRA base moral) pode enfraquecer a base moral da
sociedade. Isso não deve terminar com uma ‘substituição da base moral’, mas
sim, com um enfraquecimento da moralidade como um todo, constituindo uma
sociedade não-coesa, cada um por si, cada um com seu porrete.
"Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a
sua, é bom sairmos por aí, cada qual com seu porrete.” – Eros Grau
O encadeamento do argumento pode levar a pensar que qualquer
base moral basta, desde que haja uma amplamente aceita. Mas não; isso é só um
artifício de quem quer destruir a base moral existente. E daí vem a segunda
parte do meu ponto: a busca da Verdade. Era isso que motivava os filósofos
antigos e infelizmente foi substituído por um extremo relativismo recente:
“nada é fato; tudo é opinião”. Isso é uma desgraça. É A DESGRAÇA.
Não se trata de carimbar que o que eu acho é Verdade e
ponto. Não. Posso estar errado, você pode estar errado e, ao percebermos,
mudamos de lado. Mas desistir da busca pela Verdade, como se não
houvesse Verdade, como se qualquer coisa fosse uma verdade, isso é o fim de uma
sociedade. Evito ser maniqueísta, mas sim, estamos diante de uma ladeira
escorregadia. Ao aceitar uma pequena relativização, aceitamos a relativização
completa e vamos querer tentar entender e ter empatia pelo erro. Podemos (/devemos)
perdoar o pecador, não o pecado.
“Todavia daí não se segue que, se assim o quiser, deixará de
ser injusto, passando a ser justo; do mesmo modo que um homem que está enfermo
não ficará curado dessa maneira, embora possa ocorrer que um homem esteja doente
voluntariamente. (...)O mesmo se dá com o injusto e o intemperante: no começo
dependia deles não se tornarem homens dessa espécie, e, assim, é por sua
escolha que são injustos e intemperantes. Agora, porém, que são assim, não lhes
é possível ser diferentes”. – Aristóteles, em Ética a Nicômaco
Ou seja, existe sim uma base moral que vai levar uma
sociedade para o Bem (pelo menos DESSA sociedade) e outras que não levarão.