segunda-feira, 14 de março de 2011

A lógica da vida e um - por enquanto único - bom argumento pró cotas

Acabei de ler "A lógica da vida", de Tim Harford, indicação do amigo Balu.
O autor defende o processo decisório racional sobre todas as coisas, ou seja, diametralmente oposto a um outro economista que já citei por aqui, Dan Ariely, de quem sou fã.
Harford discorre sobre o aumento do sexo oral, a concentração de mesmas etnias em alguns bairros, os riscos de crimes violentos, as vantagens da cidade em relação a zonas rurais, sempre usando lógica ou incentivos racionais para embasar a decisão dos "atores" desses casos.
O livro é interessante.

Mas o que me motivou a escrever um post sobre o livro é o primeiro - e até agora único - bom argumento para cotas raciais em universidades.
Harford divide o racismo em duas categorias: o racismo de preferência e o racismo racional.
O primeiro se trata de uma opção sem muito embasamento: alguém pretere um negro simplesmente porque não gosta de negros. É uma estratégia burra pois acaba se perdendo o funcionário negro preparado para um concorrente não racista, ou seja, está condenada a desaparecer no longo prazo.
Já o racismo racional é o perigoso, pois é baseado em estatísticas e, portanto, tende a dar lucro e/ou ser sustentável. Um executivo que tem tempo para fazer apenas 5 entrevistas, por exemplo, tende a otimizar a "pré-escolha" desses 5 candidatos. Como - é fato - os negros estatisticamente ainda possuem uma educação de mais baixo nível do que brancos, é racional que o executivo já pré-escolha 5 brancos para as 5 únicas entrevistas para aquela 1 vaga.
Daí, a lógica de garantir cotas para negros: quebrar esse paradigma de que negros estatisticamente tiveram uma educação pior. A partir do momento que o tal executivo questionar a estatística ou, em outras palavras, começar a desconfiar que ela possa estar mudando, ele não terá porque pré-escolher 5 brancos para seu curto tempo.

Ainda tenho convicção de que os malefícios das cotas são muito maiores que os benefícios, mas quis deixar registrado um bom argumento contrário, além da minha disposição em rever ou questionar minhas certezas...

2 comentários:

  1. Bacana! Alguns estudos apontam para alternativas paliativas. Vc deveria proibir legalmente a exigência de sexo e nome da pessoa. Não resolve, óbvio. Aí entramos em outra questão que adoro, que é nome. Vc evitar no Brasil nomes nordestinos (Genyscleyde) pensando no lado do preconceito racional (NE educação pior que no SE) ou adotando nomes masculinizados no caso de mulheres.

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  2. Para quem ainda não leu, um bom texto sobre o assunto: http://www.baluzao.com/2010/08/racismo-ou-seria-logica.html

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