terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES É INERENTEMENTE TOTALITÁRIA

Trechos selecionados do capítulo "A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES É INERENTEMENTE TOTALITÁRIA" do livro "EM DEFESA DO PRECONCEITO: A NECESSIDADE DE SE TER IDEIAS PRECONCEBIDAS", de THEODORE DALRYMPLE

Infelizmente, caso seja seriamente adotado e literalmente incorporado, esse ideal ["igualdade de oportunidade"] não será menos terrível, em suas implicações, do que a igualdade de resultados. 
(...)

Não dá pra negar que, grosso modo, os fatos relativos ao lugar, ao momento e às condições nos quais alguém nasceu exercem efeitos sobre a vida da pessoa, incluindo-se os caminhos escolhidos. Não daria para ser de outra maneira. Caracteriza-se como um dos grandes erros do pensamento social contemporâneo, ou ao menos aquele exemplificado nas políticas governamentais, eleger o aspecto material ou econômico como o mais importante no tocante ao ambiente no qual as crianças nascem, o qual será tido como o fator que mais influenciará nas chances de vida. A ausência de certas pertenças materiais é considerada como uma terrível privação, ao passo que a imundície moral e a instabilidade emocional são atribuídas somente à pobreza material. Dessa forma, a única solução apresentada será a melhoria das circunstâncias  materiais nas quais as crianças nascem, até se tornarem iguais.

Todavia, as pessoas que pensam dessa forma o fazem assim porque formularam a pergunta errada, ou porque olharam pelo lado errado do telescópio. Perguntam de onde vem a pobreza em vez de questionarem a procedência da riqueza. Da mesma forma, poderia ser perguntado como foi constituída a ignorância em relação à cirurgia cardíaca em vez de como foi gerado o conhecimento a seu respeito, como se a cirurgia cardíaca fosse uma atividade natural aos homens em seu estado mais primitivo. Ao pensar a pobreza como realidade intrigante, mais cedo ou mais tarde chegar-se-á à conclusão de que a pobreza é causada pela riqueza. (...)

Simplesmente não é plausível sugerir que o nosso sistema econômico, imperfeito como é, sem dúvida, se assenta sobre uma fundação de exploração e saque; no entanto, as chances de vida das pessoas são desiguais. Como isso se explica?

Na cidade britânica na qual trabalhava, havia o mais óbvio e evidente fato: os filhos de imigrantes sikhs e hindus prosperavam rapidamente na sociedade. (...) Por quê?

Eles tinham duas ou possivelmente três grandes vantagens vis-à-vis à população local. A primeira: dispunham de um forte preconceito coletivo favorável à importância da família. Esse preconceito, que estivera sob um acirrado e prolongado ataque ideológico no Ocidente, não mais existia entre os membros da população local. (...) Em geral, é muito mais fácil substituir um bom preconceito por um ruim, do que o contrário, e talvez isso ocorra (falo aqui como alguém desprovido de crenças religiosas) porque o coração do homem se inclina mais ao mal do que ao bem, mais à gula que à moderação, ao ódio do que ao amor, à preguiça e não à indústria, ao orgulho ao invés da modéstia, e assim por diante.

(...) Será necessário que as pessoas em questão também acreditem no valor  do esforço e da educação, e que vivam numa sociedade suficientemente aberta, de modo que os seus esforços educacionais possam triunfar sobre os obstáculos, tais como o preconceito de terceiros. (...)
Os brancos pobres tinham uma opinião diferente: viviam numa sociedade tão injusta e esclerosada que nada que fizessem poderia melhorar sua condição ou promovê-los para cima na escala social. (...) Não vou falar na natureza psicologicamente reconfortante de uma atitude ou crença como essa, ou como ela justifica e desculpa, por antecipação, o fracasso, permitindo que as pessoas encontrem acolhimento na ideia de que foram injustiçadas, e que as suas vidas teriam sido muito diferentes se tivessem mais sorte. (...)

Para quem acredita na injustiça da sociedade, será sempre possível apontar casos de mérito que não foram recompensados; da mesma forma, sempre será possível àqueles que creem no valor do esforço pessoal, apontar casos de triunfo mesmo diante das mais severas circunstâncias. É a visão de mundo que determina a escolha de evidências, não o oposto.

Agora, caso seja aceito que uma visão de mundo herdada ou preconcebida afeta aspectos importantes do comportamento, os quais por sua vez afetam as chances de vida de uma pessoa, tanto quanto ou até mais que do que sua posição inicial na escala econômica, os que realmente acreditam na igualdade de oportunidades concluirão que as visões de mundo também deverão ser equiparadas.  E a única forma possível de se fazer isso seria ao se garantir que nenhuma criança crescesse com preconceitos distintos daqueles herdados por qualquer outra criança; isso equivaleria instilar em todas as crianças não a ausência total de preconceitos, pois isso seria impossível, mas os MESMOS preconceitos. (...) A realização de uma completa igualdade de oportunidades, o que demandaria a eliminação dos preconceitos prejudiciais, necessitaria de uma ditadura totalitária mais terrivelmente pormenorizada do que qualquer outra já vista. (...)

Uma sociedade tão livre de preconceitos de modo que não seria permitido aos pais se preocuparem mais com o bem estar de seus próprios filhos do que com o de qualquer outra pessoa, e que realmente não sentissem essa preocupação, implicaria num horror que está além dos poderes de descrição. O preconceito é necessário para a manutenção da mais elementar decência.