Trechos selecionados do capítulo "A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES É INERENTEMENTE TOTALITÁRIA" do livro "EM DEFESA DO PRECONCEITO: A NECESSIDADE DE SE TER IDEIAS PRECONCEBIDAS", de THEODORE DALRYMPLE
Infelizmente, caso seja seriamente adotado e literalmente
incorporado, esse ideal ["igualdade de oportunidade"] não será menos terrível, em suas implicações, do que a
igualdade de resultados.
(...)
Não dá pra negar que, grosso modo, os fatos
relativos ao lugar, ao momento e às condições nos quais alguém nasceu exercem
efeitos sobre a vida da pessoa, incluindo-se os caminhos escolhidos. Não daria
para ser de outra maneira. Caracteriza-se como um dos grandes erros do
pensamento social contemporâneo, ou ao menos aquele exemplificado nas políticas
governamentais, eleger o aspecto material ou econômico como o mais importante
no tocante ao ambiente no qual as crianças nascem, o qual será tido como o
fator que mais influenciará nas chances de vida. A ausência de certas pertenças
materiais é considerada como uma terrível privação, ao passo que a imundície moral
e a instabilidade emocional são atribuídas somente à pobreza material. Dessa
forma, a única solução apresentada será a melhoria das circunstâncias materiais nas quais as crianças nascem, até se
tornarem iguais.
Todavia, as pessoas que pensam dessa forma o fazem assim
porque formularam a pergunta errada, ou porque olharam pelo lado errado do
telescópio. Perguntam de onde vem a pobreza em vez de questionarem a
procedência da riqueza. Da mesma forma, poderia ser perguntado como foi
constituída a ignorância em relação à cirurgia cardíaca em vez de como foi gerado
o conhecimento a seu respeito, como se a cirurgia cardíaca fosse uma atividade
natural aos homens em seu estado mais primitivo. Ao pensar a pobreza como
realidade intrigante, mais cedo ou mais tarde chegar-se-á à conclusão de que a
pobreza é causada pela riqueza. (...)
Simplesmente não é plausível sugerir que o nosso sistema
econômico, imperfeito como é, sem dúvida, se assenta sobre uma fundação de
exploração e saque; no entanto, as chances de vida das pessoas são desiguais.
Como isso se explica?
Na cidade britânica na qual trabalhava, havia o mais óbvio e
evidente fato: os filhos de imigrantes sikhs e hindus prosperavam rapidamente
na sociedade. (...) Por quê?
Eles tinham duas ou possivelmente três grandes vantagens
vis-à-vis à população local. A primeira: dispunham de um forte preconceito
coletivo favorável à importância da família. Esse preconceito, que estivera sob
um acirrado e prolongado ataque ideológico no Ocidente, não mais existia entre
os membros da população local. (...) Em geral, é muito mais fácil substituir um
bom preconceito por um ruim, do que o contrário, e talvez isso ocorra (falo
aqui como alguém desprovido de crenças religiosas) porque o coração do homem se
inclina mais ao mal do que ao bem, mais à gula que à moderação, ao ódio do que
ao amor, à preguiça e não à indústria, ao orgulho ao invés da modéstia, e assim
por diante.
(...) Será necessário que as pessoas em questão também
acreditem no valor do esforço e da
educação, e que vivam numa sociedade suficientemente aberta, de modo que os seus
esforços educacionais possam triunfar sobre os obstáculos, tais como o
preconceito de terceiros. (...)
Os brancos pobres tinham uma opinião diferente: viviam numa
sociedade tão injusta e esclerosada que nada que fizessem poderia melhorar sua
condição ou promovê-los para cima na escala social. (...) Não vou falar na
natureza psicologicamente reconfortante de uma atitude ou crença como essa, ou
como ela justifica e desculpa, por antecipação, o fracasso, permitindo que as pessoas
encontrem acolhimento na ideia de que foram injustiçadas, e que as suas vidas
teriam sido muito diferentes se tivessem mais sorte. (...)
Para quem acredita na injustiça da sociedade, será sempre
possível apontar casos de mérito que não foram recompensados; da mesma forma,
sempre será possível àqueles que creem no valor do esforço pessoal, apontar
casos de triunfo mesmo diante das mais severas circunstâncias. É a visão de
mundo que determina a escolha de evidências, não o oposto.
Agora, caso seja aceito que uma visão de mundo herdada ou
preconcebida afeta aspectos importantes do comportamento, os quais por sua vez
afetam as chances de vida de uma pessoa, tanto quanto ou até mais que do que
sua posição inicial na escala econômica, os que realmente acreditam na
igualdade de oportunidades concluirão que as visões de mundo também deverão ser
equiparadas. E a única forma possível de
se fazer isso seria ao se garantir que nenhuma criança crescesse com
preconceitos distintos daqueles herdados por qualquer outra criança; isso
equivaleria instilar em todas as crianças não a ausência total de preconceitos,
pois isso seria impossível, mas os MESMOS preconceitos. (...) A realização de
uma completa igualdade de oportunidades, o que demandaria a eliminação dos
preconceitos prejudiciais, necessitaria de uma ditadura totalitária mais
terrivelmente pormenorizada do que qualquer outra já vista. (...)